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Já aqui tenho escrito que, apesar de ser um leitor frequente de poesia, sinto dificuldades em expressar-me sobre as minhas leituras poéticas. Após ler estes Poemas Canhotos, o último livro do recentemente falecido Herberto Helder, receio bem cair em banalidade e generalidades sem grande sumo.
Começo este texto fazendo uma breve (e vaga, não concretizada) referência ao numeroso conjunto de artigos (incluindo os meus próprios, pobres e incipientes - mas também despretensiosos) que nos últimos dois anos se têm escrito sobre a poesia de Herberto Helder, sobre os seus últimos livros, sobre a sua pessoa, sobre o "mito" construído (poeta obscuro, fechado em si mesmo, que recusa entrevistas, etc.): morto o Poeta fica a Obra, tal como eventualmente o próprio desejaria; vai-se o folclore (os debates, visões hagiográficas), mesmo que fiquem as ideias feitas (matéria-prima para novos debates, a ocorrer não tanto nos jornais como nas universidades); inicia-se o comércio das relíquias, o debate em torno dos poemas esquecidos num qualquer baú para jubilosa (e espantada) descoberta, publicação e autópsia nos anos vindouros, os colóquios e saraus, eventualmente as placas e batismos de ruas e escolas...
Certo, concordo que o poeta ao chamar "canhotos" a estes poemas está a sublinhar o seu caráter imperfeito, não elevado, raso até (foram os poemas possíveis ao octogenário poeta?). Depois de uma poesia jubilosa, o fecho faz-se com um poesia que nos remete para a imperfeição do próprio Homem - frágil e mortal. Tal como em A Morte sem Mestre, o poema toca os temas da morte e da poesia, tornando estes Poemas Canhotos numa espécie de prolongamento do livro anterior (outros escreveram o mesmo, e eu não posso deixar de concordar). Como corpus é igualmente algo desequilibrado, contribuindo (não se perca, porém, de vista o título) para uma assumida fragilidade. Se não é o ponto mais alto da poesia de Herberto Helder - havendo mesmo quem o considere o seu ponto mais baixo (uma espécie de saída pela porta dos fundos) -, para mim existem no conjunto alguns bons poemas que justificam a leitura, e não constituem desprimor para o seu "Poema Contínuo"...
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