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A poesia de Rui Tinoco tem, para mim, qualquer coisa de singular. Ao ler este seu Era Uma Vez O Branco deparei-me com as principais características que já me haviam encantado no seu primeiro livro, intitulado O Segundo Aceno.
Uma palavra há que me ocorre ao ler os seus versos: artifício. Mas artifício no melhor dos sentidos. Acho astucioso (à falta de me ocorrer outro termo melhor), por exemplo, o modo como Rui Tinoco brinca com as ferramentas da língua (logo no seu primeiro poema: uma conversa que se "reproduz" sem utilizar as palavras que a integram, mas apenas a pontuação que a marca). E não consigo deixar de admirar o modo como desconstrói o ato de escrever, evocando ora a página em branco, ora esse diálogo (artificialmente íntimo) entre escritor/poeta e leitor (mas também entre escritor/poeta e os seus personagens)...
Era Uma Vez O Branco, como se percebe, é uma referência a esse tema tão abordado na literatura: a pagina em branco (ou a procura do texto). Tinoco, no poema "mesmo aqui neste branco", refere-se às frases que se sentam em redor do sujeito poético (poeta), «(...) mas se as tento agarrar, / elas desatam aos gritinhos / e a fugir como se fossem / gregas ninfas de alvos seios / palpitantes.» Mas eis que se levanta a questão: será o texto encontrado pelo autor, ou o autor encontrado pelo texto?
Nos versos de Rui Tinoco, o escritor/poeta é frequentemente o objeto do poema. Afinal «(...) o poeta / é somente um outro personagem / do texto» - é ficcionável, um ficção, e assim a leitura destes poemas tem que ser feita à luz desse artifício. O poeta observa e dialoga com personagens (que fogem ao seu controlo, e até negoceiam a sua inclusão no texto) e leitores - serão necessárias apresentações em tais conversas? O texto vai respondendo ao secreto anseio do branco em tornar-se preto...
Julgo que estes dois polos que destaquei refletem não apenas os anseios de quem escreve (o autor, que é escritor/poeta como o "personagem"/sujeito poético dos seus versos), mas também o fascínio que a escrita exerce sobre outra faceta sua: a de leitor (!). O artifício, que transporta os leitores para o poema, como se fossem personagens, acaba - julgo não ser abusivo escrever tal - por incluir o autor.
Uma palavra há que me ocorre ao ler os seus versos: artifício. Mas artifício no melhor dos sentidos. Acho astucioso (à falta de me ocorrer outro termo melhor), por exemplo, o modo como Rui Tinoco brinca com as ferramentas da língua (logo no seu primeiro poema: uma conversa que se "reproduz" sem utilizar as palavras que a integram, mas apenas a pontuação que a marca). E não consigo deixar de admirar o modo como desconstrói o ato de escrever, evocando ora a página em branco, ora esse diálogo (artificialmente íntimo) entre escritor/poeta e leitor (mas também entre escritor/poeta e os seus personagens)...
Era Uma Vez O Branco, como se percebe, é uma referência a esse tema tão abordado na literatura: a pagina em branco (ou a procura do texto). Tinoco, no poema "mesmo aqui neste branco", refere-se às frases que se sentam em redor do sujeito poético (poeta), «(...) mas se as tento agarrar, / elas desatam aos gritinhos / e a fugir como se fossem / gregas ninfas de alvos seios / palpitantes.» Mas eis que se levanta a questão: será o texto encontrado pelo autor, ou o autor encontrado pelo texto?
Nos versos de Rui Tinoco, o escritor/poeta é frequentemente o objeto do poema. Afinal «(...) o poeta / é somente um outro personagem / do texto» - é ficcionável, um ficção, e assim a leitura destes poemas tem que ser feita à luz desse artifício. O poeta observa e dialoga com personagens (que fogem ao seu controlo, e até negoceiam a sua inclusão no texto) e leitores - serão necessárias apresentações em tais conversas? O texto vai respondendo ao secreto anseio do branco em tornar-se preto...
Julgo que estes dois polos que destaquei refletem não apenas os anseios de quem escreve (o autor, que é escritor/poeta como o "personagem"/sujeito poético dos seus versos), mas também o fascínio que a escrita exerce sobre outra faceta sua: a de leitor (!). O artifício, que transporta os leitores para o poema, como se fossem personagens, acaba - julgo não ser abusivo escrever tal - por incluir o autor.
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