domingo, 9 de março de 2014

"Bartleby & Companhia", de Enrique Vila-Matas

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A glória ou o mérito de certos homens consiste em escrever bem; o de outros consiste em não escrever. (Jean de la Bruyère, cit. in Bartleby & Companhia).

Bartleby & Companhia é um livro que aprecio de uma forma muito particular. Sabendo não ser nenhuma obra fundamental da literatura, é, ainda assim, um livro que não me importaria de ter escrito. Feita esta estranha declaração, pouco haverá para dizer, mas ainda assim procurarei explicar as razões que me levam a gostar tanto deste livro, que agora, mais uma vez, reli.
Há uns anos atrás, tive a oportunidade de descobrir Vila-Matas através da leitura de cinco ou seis livros seus. De um modo geral, achei interessantes as obras então lidas, o estilo de escrita, as narrativas; porém, Bartleby & Companhia desde logo se destacou para mim (mais tarde também achei muito interessante Suicídios Exemplares). Desde logo porque é um romance de tonalidade ensaística, concebido de forma matrióskico (perdoem-me o neologismo): um escritor (Vila-Matas) escreve sobre um escritor (de uma obra só, agora em busca de um caminho de regressa à escrita) que escreve sobre escritores que sofrem do "síndrome de Bartleby"... (Será o neologismo assim tão desadequado?)
E quem é Bartleby? Trata-se do memorável personagem de um conto de Herman Melville, que, sendo escrevente num escritório (onde, aliás, vive), aparenta não ter vida para além da sua mesa de trabalho e que, quando o encarregam com algo ou lhe perguntam qualquer coisa sobre si, responde invariavelmente «Preferia não o fazer». O tal síndrome é, pois, detetável nos escritores que escreveram uma obra ou duas e depois deixaram de escrever, caindo num longo silêncio; nos que depois de terem escrito toda uma obra ficaram paralisados; ou nos que, talvez por terem uma consciência literária muito apurada, nunca chegaram a escrever (!)...
Este é, pois, um livro que, como já se percebeu, fala de escritores (muitos) da "Literatura do Não", como lhe chama o nosso rastreador de bartlebys no seu diário ou «caderno de notas de rodapé sobre um texto invisível»; as suas páginas incluem várias citações, justificativas para a não-escrita, curiosidades e excentricidades. Pessoalmente, a leitura deste livro deu-me a conhecer alguns escritores e, mais do que isso, fez-me tentar conhecer-lhes as obras (Robert Walser, por exemplo, o primeiro escritor a ser referido, foi um dos autores a que cheguei através de Bartleby & Companhia).
Um livro, portanto, que considero absolutamente delicioso, na medida em que consegue ser simultaneamente culto e divertido. De certo modo, coloco-o a par de outro livro que acho igualmente delicioso - O Papagaio de Flaubert, de Julian Barnes - e que também parte em busca da literatura...

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