De Jack London posso dizer que marcou a minha juventude enquanto leitor; a sua escrita escorreita e o caráter aventureiro das suas narrativas contribuíram para que, nesse período, lesse alguns dos seus livros mais revelantes. Cheguei agora, ao fim de vários anos, a este A Peste Escarlate (publicado em 1912), história de quase ficção científica que descreve uma epidemia, extremamente mortífera e contagiosa, surgida em 2013 que se propagou com grande rapidez e praticamente dizimou a humanidade e a civilização... (Ao ler a sinopse na contracapa, antes mesmo de iniciar a leitura, não pude deixar de me lembrar dos não muito longínquos alarmes de pandemia que povoaram os nossos noticiários.)
Visite-nos em https://www.facebook.com/leiturasmil.blogspot.pt Neste planeta, o homem domesticou os animais úteis e destruiu os nocivos. Desbravou a terra, desembaraçou-a da vegetação selvática. Depois, um dia, desaparece, e a onda da vida primitiva reflui sobre ele, varrendo a obra humana.
Num abrir e fechar de olhos, dez mil anos de cultura e de civilização se desfizeram como a espuma. (in A Peste Escarlate)
London coloca na voz de um velho professor universitário, de 87 anos, o relato aos seus netos desse flagelo que atingiu o mundo sessenta anos antes e da sua improvável sobrevivência. Este personagem descreve o caos vivido nas cidades, a paralisia nos transportes e nos abastecimentos, o eclodir de uma onda de pilhagens e violência, a quebra das redes de solidariedade, a fuga para o campo, enfim, a disseminação da peste, o colapsar da sociedade... No ano de 2073, em que decorre a ação, apesar dos vestígios da anterior civilização, os homens vivem em bandos de características primitivas (vivem da caça e da pastorícia, vestem-se de peles, perderam o domínio de grande parte das tecnologias...); a Natureza, entretanto, conquistara terreno, «varrendo a obra humana», a linguagem empobrecera... O velho, ao encerrar o seu relato, diz que, de certo modo, a humanidade está condenada a reorganizar-se civilizacionalmente, até que uma nova onda de aniquilação atue...
Um livro que, ainda que não sendo uma obra fundamental (mesmo dentro da obra do autor), se lê com agrado.
Um livro que, ainda que não sendo uma obra fundamental (mesmo dentro da obra do autor), se lê com agrado.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Obrigado pelo seu contributo. O seu comentário será publicado em breve.