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«Eu devia aceitar por mercê das tuas misericórdias que chamasses aquele anjo para junto dos teus, antes que o mundo, esse mundo infame e sem comiseração lhe cuspisse na cara com a desgraça do seu nascimento.» (in Frei Luís de Sousa)
O regresso a outra obra estudada nos bancos da escola: acabo de reler o drama Frei Luís de Sousa, de Almeida Garrett, uma das peças mais importantes do reportório teatral português. Além desta, estudei ainda Viagens na Minha Terra e, no âmbito da poesia, Folhas Caídas - ou seja, percorri talvez as três obras mais importantes do autor, sendo que, a meu ver, têm méritos suficientes para colocarem Garrett num lugar de algum destaque na história da literatura portuguesa.
A história, em si, é simples: tendo dado por morto na batalha de Alcácer Quibir o seu marido D. João de Portugal, D. Madalena de Vilhena casou com D. Manuel de Sousa Coutinho (que no desfecho da narrativa se torna Frei Luís de Sousa); deste casamento resultou o nascimento de uma filha, D. Maria de Noronha. A desgraça vem com o conhecimento de que D. João era vivo - a desonra vem manchar, desta forma, a família de D. Madalena e D. Manuel... Se os presságios são numerosos ao longo dos dois primeiros atos da peça, no terceiro e último ato pesadas consequências caem sobre os personagens (note-se que nesta narrativa não há propriamente "maus" - todos, de uma forma ou de outra, procuram comportar-se honradamente)... O fim é pautado por um grande dramatismo (talvez algo exagerado à luz da sensibilidade contemporânea).
Na construção da sua obra, Garrett baseou-se numa história real (ainda que fazendo algumas adaptações para conseguir um maior alcance dramático), ocorrida em pleno período filipino; mas ter-se-á igualmente inspirado num drama que lhe tocava diretamente: a situação de ilegitimidade da sua filha Maria Adelaide...
Talvez reserve para breve a releitura de Viagens na Minha Terra... (De facto, encaro estas leituras como um regresso às origens).
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