Visite-nos em https://www.facebook.com/leiturasmil.blogspot.pt |
Eça de Queiroz é um autor incontornável da literatura em língua portuguesa; a qualidade da sua escrita é tal que mesmo obras menos importantes, eventualmente como estas Cartas de Inglaterra, acabam por ter interesse. Este livro reúne um conjunto de "cartas" originalmente publicadas num jornal português, durante o período em que Eça exerceu as funções de cônsul em Inglaterra.
Ao longo das suas páginas, Eça de Queiroz trata, com a finura intelectual e o humor cheio de ironia que lhe são próprios, variadíssimos assuntos: a sociedade inglesa e os seus costumes, o imperialismo britânico e europeu, o antissemitismo alemão, o modo como Portugal era visto pelos britânicos, o Inverno em Londres, o percurso de Benjamin Disraeli (figura que, além de escritor de romances - caracterizados como "salsadas" apesar do idealismo e requinte (do "chique", talvez dissesse Dâmaso Salcede) -, chegou a primeiro-ministro), a infalibilidade (ainda assim falível!) do Times, entre outros temas.
A sociedade britânica é pintada com as cores da civilização (nos seus aspetos positivos mas também, como se verá, nos negativos). Eça não pode deixar de mostrar admiração por uma nação onde se publicam tantos livros; a leitura (mesmo que recaindo sobretudo nos romances da moda ou em livros de viagem às mais exóticas paragens) era um fenómeno de massas muito louvável. Se em Portugal não existia literatura infanto-juvenil (antes se davam a ler aos mais novos «mazorros sensaborões», contribuindo para transformar as crianças em idiotas), em Inglaterra abundavam as edições de qualidade, educativas, apelativas, apropriadas às várias idades.
Por outro lado, o autor aponta a sobranceria como um dos defeitos de caráter dos ingleses: estes, na sua ótica, consideravam ter os valores e costumes mais elevados; quando viajavam, viam nos outros selvagens... Eça também não omite a existência de pobres na sociedade britânica (os operários que alimentavam a indústria), que o egoísmo da burguesia e da aristocracia esquecia em todas os períodos do ano... exceto no Natal...
No que concerne ao imperialismo, Eça refere-se aos apetites imperialistas das várias potências europeias como «instintos de pilhagem, de gatunice, de pirataria, que alberga sempre a alma dum povo civilizado»; a Inglaterra, como uma das principais potências europeias, é vista de forma muito negativa no domínio da política externa... Este final de século XIX, recorde-se, corresponde à "era dos impérios" (na expressão de Eric Hobsbawm): nela os europeus vão procurar ocupar territórios em África, territórios que lhes servissem de fonte de matérias-primas e mercados e onde pudessem expandir a sua cultura e afirmar o seu poder.
Eça de Queiroz alude à guerra travada pelos ingleses no Afeganistão, segundo ele um território demasiado vasto para ser controlado (lá as vitórias acabavam por ser invariavelmente provisórias). Fala também do processo de ocupação britânica do Egito, apresentada pelos políticos dessa nação (cinicamente) como "pacificação": o autor condena a intervenção militar nesse país, motivada por se terem tentado implementar reformas que chocavam com determinados privilégios dos britânicos, tais como a isenção de impostos ou acesso preferencial aos bem remunerados empregos públicos; critica igualmente o desprezo dos europeus que viviam em Alexandria pelos locais...
Em duas cartas, descreve-se o clima de rebelião vivida na Irlanda, país onde vigorava um «regime semi-feudal da propriedade» em que os lordes (invariavelmente ausentes) exigiam elevadas rendas aos camponeses pobres (sem beneficiaram as terras, quase sempre fracas para a agricultura) e atuavam com violência contra quem as não conseguisse pagar; Eça não hesita em apelidar a Irlanda como "país da miséria", e os irlandeses como "raça oprimida" vivendo em "servidão agrária" - e, logo, em injustiça; acusa ainda a Inglaterra de, para não perturbar os interesses de um milhar de ricos proprietários, condenar insensivelmente milhões à fome... O ódio aos "conquistadores" protestantes era, à época, bastante pronunciado, ao ponto de ganharem força várias associações com ambições independentistas e outras defensoras da luta armada contra os opressores. Para Eça, o clima de revolta justificava-se por uma sensação de desespero vivida pelos irlandeses...
Ao longo das suas páginas, Eça de Queiroz trata, com a finura intelectual e o humor cheio de ironia que lhe são próprios, variadíssimos assuntos: a sociedade inglesa e os seus costumes, o imperialismo britânico e europeu, o antissemitismo alemão, o modo como Portugal era visto pelos britânicos, o Inverno em Londres, o percurso de Benjamin Disraeli (figura que, além de escritor de romances - caracterizados como "salsadas" apesar do idealismo e requinte (do "chique", talvez dissesse Dâmaso Salcede) -, chegou a primeiro-ministro), a infalibilidade (ainda assim falível!) do Times, entre outros temas.
A sociedade britânica é pintada com as cores da civilização (nos seus aspetos positivos mas também, como se verá, nos negativos). Eça não pode deixar de mostrar admiração por uma nação onde se publicam tantos livros; a leitura (mesmo que recaindo sobretudo nos romances da moda ou em livros de viagem às mais exóticas paragens) era um fenómeno de massas muito louvável. Se em Portugal não existia literatura infanto-juvenil (antes se davam a ler aos mais novos «mazorros sensaborões», contribuindo para transformar as crianças em idiotas), em Inglaterra abundavam as edições de qualidade, educativas, apelativas, apropriadas às várias idades.
Por outro lado, o autor aponta a sobranceria como um dos defeitos de caráter dos ingleses: estes, na sua ótica, consideravam ter os valores e costumes mais elevados; quando viajavam, viam nos outros selvagens... Eça também não omite a existência de pobres na sociedade britânica (os operários que alimentavam a indústria), que o egoísmo da burguesia e da aristocracia esquecia em todas os períodos do ano... exceto no Natal...
No que concerne ao imperialismo, Eça refere-se aos apetites imperialistas das várias potências europeias como «instintos de pilhagem, de gatunice, de pirataria, que alberga sempre a alma dum povo civilizado»; a Inglaterra, como uma das principais potências europeias, é vista de forma muito negativa no domínio da política externa... Este final de século XIX, recorde-se, corresponde à "era dos impérios" (na expressão de Eric Hobsbawm): nela os europeus vão procurar ocupar territórios em África, territórios que lhes servissem de fonte de matérias-primas e mercados e onde pudessem expandir a sua cultura e afirmar o seu poder.
Eça de Queiroz alude à guerra travada pelos ingleses no Afeganistão, segundo ele um território demasiado vasto para ser controlado (lá as vitórias acabavam por ser invariavelmente provisórias). Fala também do processo de ocupação britânica do Egito, apresentada pelos políticos dessa nação (cinicamente) como "pacificação": o autor condena a intervenção militar nesse país, motivada por se terem tentado implementar reformas que chocavam com determinados privilégios dos britânicos, tais como a isenção de impostos ou acesso preferencial aos bem remunerados empregos públicos; critica igualmente o desprezo dos europeus que viviam em Alexandria pelos locais...
Em duas cartas, descreve-se o clima de rebelião vivida na Irlanda, país onde vigorava um «regime semi-feudal da propriedade» em que os lordes (invariavelmente ausentes) exigiam elevadas rendas aos camponeses pobres (sem beneficiaram as terras, quase sempre fracas para a agricultura) e atuavam com violência contra quem as não conseguisse pagar; Eça não hesita em apelidar a Irlanda como "país da miséria", e os irlandeses como "raça oprimida" vivendo em "servidão agrária" - e, logo, em injustiça; acusa ainda a Inglaterra de, para não perturbar os interesses de um milhar de ricos proprietários, condenar insensivelmente milhões à fome... O ódio aos "conquistadores" protestantes era, à época, bastante pronunciado, ao ponto de ganharem força várias associações com ambições independentistas e outras defensoras da luta armada contra os opressores. Para Eça, o clima de revolta justificava-se por uma sensação de desespero vivida pelos irlandeses...
O crescimento do antissemitismo na Alemanha é igualmente objeto do interesse queirosiano. O autor confessa o seu espanto em ver tal intolerância num país de elevada cultura, mas também em sentir na Inglaterra a existência de um certo desconforto face à ascensão (nomeadamente económica) dos judeus. Tenta analisar os motivos que explicam o antissemitismo, não conseguindo, porém, fugir de certas ideias feitas e preconceitos de sentido negativo...
Enfim, uma panóplia diversificada de assuntos, na prosa muito própria de Eça de Queiroz.
Enfim, uma panóplia diversificada de assuntos, na prosa muito própria de Eça de Queiroz.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Obrigado pelo seu contributo. O seu comentário será publicado em breve.