terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

"O Aleph", de Jorge Luis Borges

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Eu fui Homero; em breve, serei Ninguém, como Ulisses; em breve, serei todos: estarei morto. (excerto do conto "O Imortal", in O Aleph)

Não repetindo o que ainda há dia escrevi sobe outra obra de Jorge Luis Borges (Ficções), começo por dizer que a leitura de O Aleph, coletânea de contos publicados originalmente em 1949, não me desiludiu. O estilo inconfundível de Borges, que cruza com tanta mestria o real, o acontecido (o histórico) ou o literário (partindo das mais variadas referências, sejam da literatura greco-romana, dos textos bíblicos, ou de autores cronologicamente mais próximos do autor) com a pura ficção, está bem presente nas dezoito histórias curtas que compõem esta obra. Nelas o autor joga com os conceitos de tempo e imortalidade, de ortodoxia e heresia (conceitos cuja fronteira pode ser bem ténue - cft. "Os Teólogos"), de labirinto (que tanto pode ser literal como alegórico - como acontece no conto "Os dois reis e os dois labirintos", em que o deserto é apresentado como o rei dos labirintos), entre outros.
Todas as histórias têm interesse, ainda que algumas me tenham dado mais prazer que outras. Gostei de "A Casa de Asterion" pelo ângulo de abordagem: recorrendo à mitologia grega, Borges revela-nos a perspetiva do Minotauro, um ser solitário dentro do seu labirinto. Apreciei "A Outra Morte" pelo modo como o autor joga com o tempo (da história, da memória da história, da escrita de um conto), bebendo de um problema teológico - da possibilidade ou impossibilidade de Deus (que tudo pode) fazer com que o passado não tenha sido. "Deutsches Requiem" conta a história de um nazi (diretor de um campo de concentração) condenado à morte após o termo da guerra: este, não podendo aceitar a piedade ou a compaixão como "novo homem" que pretensamente era, destrói um poeta judeu que admirava para dessa forma suprimir uma parte da sua alma... Mas talvez uma das histórias mais conseguidas é aquela que dá nome ao livro: nela Borges relata o relacionamento com um poeta muito particular (poeta esse que, mau grado a mediocridade dos seus versos, se vê como um grande poeta), detentor de um "aleph", um ponto no espaço que contém todos os outros pontos (ponto esse que permite ver tudo o que existe no universo sobre simultaneamente todas as perspetivas)...
Fantástico? Sim, Borges assim pode ser considerado, mas é seguramente também muito imaginativo.

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