segunda-feira, 17 de agosto de 2015

"Poesia Inglesa" (2 vols.), de Fernando Pessoa

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A leitura da poesia inglesa de Fernando Pessoa acaba por funcionar para mim como um regresso a este autor (ao fim de uma primeira imersão,  há cerca de dez anos, nas várias facetas da sua obra). Há, porém, uma grande limitação nesta minha abordagem: mais do que o inglês original (o meu domínio da língua não me permite, infelizmente, apreciar a escrita original - reputada, aliás, pelos estudiosos como algo complexa e caracterizada por um certo tom arcaizante), segui a tradução (que me pareceu francamente boa) de Luísa Freire, responsável pela edição e pelos textos que servem de posfácio aos dois volumes lidos.
É sabido que Pessoa passou parte da sua infância/juventude em Durban, na África do Sul, contactando profundamente com a cultura anglófona - o que justifica a sua ambição, num determinado momento, de ser reconhecido como um poeta de expressão inglesa. Uma das suas primeiras personalidades literárias pessoanas - ainda não exatamente de tipo heteronómico - de vulto (isto é, com uma obra mais ou menos ampla e congruente) foi Alexander Search: com esse nome, Pessoa assinou um conjunto significativo de poemas entre 1903 e 1910 (durante, portanto, a sua juventude). Após esta primeira fase poética (ainda algo imitativa e ingénua), Pessoa assina com o seu próprio nome (e chega mesmo a publicar) um corpus poético mais maduro e original (mais próximo, quer na expressão, quer nos temas, da sua poesia em português). Os volumes agora lidos apresentam a obra pessoana em inglês escrita desde 1910 ao fim da sua vida.
No primeiro volume da sua Poesia Inglesa é possível encontrar as obras que Pessoa publicou em vida, chegando a enviá-las a jornais ingleses (33 Sonnets, Epithalium, Antinous e Inscriptions), bem como The Mad Fiddler (ou O Rabequista Mágico, na tradução de Luísa Freire). Epithalium apresenta a curiosidade de ser um poema de caráter erótico, ou talvez mesmo - em algumas passagens - obsceno (na medida em que trata da perda de virgindade de uma noiva); em Antinous Pessoa trata o amor homossexual entre o imperador romano Adriano e Antínoo (tema desenvolvido de forma exemplar por Margarite Yourcenar na já clássica obra Memórias de Adriano); finalmente, The Mad Fiddler é uma coletânea de poemas de que Pessoa se orgulhava bastante (e, de facto, os mesmos estão ao nível de outros grandes poemas escritos na mesma altura, ou seja, na década de 1910's), e que pretendeu mesmo publicar em Inglaterra (ainda que não desenvolvendo grandes esforços para concretizar esse ensejo). No segundo volume, a responsável pela edição reuniu poemas avulsos, incluindo alguns inéditos.
Apesar de menos conhecida do grande público, e pese embora a eventual dificuldade de a apreciar na língua original, esta Poesia Inglesa de Pessoa tem muitos aspetos que justificam a leitura, complementando a visão que temos deste nosso autor.

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