sábado, 21 de fevereiro de 2015

"Dora Bruder", de Patrick Modiano

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Dora Bruder foi a minha primeira incursão pela obra do mais recente Prémio Nobel da Literatura (2014), o francês Patrick Modiano. Incursão, aliás, bastante feliz, que me convida a explorar (a breve prazo) mais livros do autor.
Apreciei bastante este curto livro (que se lê em poucas horas), por várias razões: desde logo pelo que nos conta (o percurso de Dora Bruder, uma jovem judia que terá vivido em Paris durante a ocupação nazi); depois, pelo modo como nos conta (este é um romance ensaístico, uma vez que o autor-narrador expõe nas páginas do livro as etapas e os resultados da sua "investigação", a sua tentativa de recuperar indícios do passado, cruzando-os com aspetos da sua própria biografia); e por fim, pela sua maneira de escrever (a escrita de Modiano é sóbria, por vezes factual, direta ou jornalística, mas inteligente na forma como articula factos objetivos com impressões subjetivas). Este livro (desconheço se se trata de uma característica do escritor) é feito de fragmentos ou, melhor dizendo, de uma sobreposição de camadas - que, seguindo um rumo nem sempre muito claro (como aliás acontece com o processo de recordar), vão contando uma história: a história (feita de muitas lacunas também elas significativas) de uma vida.
Julgo que o autor trata com muita delicadeza, ou mesmo elegância, a história (resgatada ao esquecimento) de Dora Bruder, uma entre tantos milhares de vítimas da voragem genocida nazi (sendo que cada vítima tem a sua própria história, o seu próprio percurso, o seu próprio drama, a sua tão singular dor). O esforço do narrador-autor assemelha-se a uma luta contra o esquecimento, ou contra a amnésia inconsciente do presente. Muitos dos edifícios e das ruas parisienses onde foram feitas apreensões durante a ocupação, bem como os recintos onde foram aprisionados os judeus antes da deportação, ainda existem, indiferentes à História; também eles são personagem desta narrativa, sendo magnificamente evocados por Modiano.
Um livro, portanto, muito recomendável, que procurarei um dia destes ter na minha própria biblioteca.

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