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"Nobilíssima Visão", de Mário Cesariny, foi um livro marcante no meu percurso de leitor de poesia. Até me iniciar em autores mais contemporâneos (digamos "pós-pessoanos"), andara a descobrir a poesia portuguesa (mais) "clássica" - Camões, Antero, Cesário, Sá-Carneiro, Pessoa & Co., etc. Quando li pela primeira vez este livro, pouco conhecia sobre o autor ou sobre o surrealismo português (e outros movimentos coetâneos). Na altura achei sobretudo graça à linguagem de Cesariny (o uso da ironia e da sátira, da rima patética, de imagens caricatas) na sua crítica à sociedade e ao regime político de meados do século XX.
Decidi há dias regressar à poesia de Cesariny, mas desta vez com um pouco mais de conhecimentos, além de leituras (p.f., não tomar isto como presunção). Foi, pois, com agrado que reencontrei o humor (presente, por exemplo, no poema "Pastelaria") e a mordacidade que já antes apreciara neste autor («De forma que entrar nas tuas pernas / foi como entrar num Tribunal de Contas»).
Os textos reunidos neste livro foram escritos em 1945-46, antes de o autor se render ao surrealismo (relembre-se que o autor foi um dos introdutores deste movimento em Portugal, após a sua passagem por França e contactos com André Breton), pelo que não é de estranhar o pendor social de alguns poemas, próximos mesmo da estética neorrealista (que posteriormente criticou e rejeitou) - neles se evocam os operários e os desfavorecidos, e criticam-se os capitalistas e burgueses. Este livro inclui também "Louvor e Simplificação de Álvaro de Campos (fragmento)", poema que evoca e reinventa o estilo presente nas odes desse heterónimo pessoano (atente-se nos inícios dos anos 40 a Ática iniciou, pelas mãos de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor, a edição sistemática da obra de Fernando Pessoa, o que se traduziu numa melhor compreensão da dimensão do poeta); na nota de autor à primeira edição, Cesariny assume-o, porém, como «coisa em que cada um só deve cair uma vez». "Um Auto para Jerusalém" fecha o volume: trata-se de um texto dramático que critica, com muito humor, o Estado policial da ditadura, a injustiça social existente mas também a apatia dos intelectuais.
Segue-se a redescoberta, nos próximos dias, de "Pena Capital"...
Decidi há dias regressar à poesia de Cesariny, mas desta vez com um pouco mais de conhecimentos, além de leituras (p.f., não tomar isto como presunção). Foi, pois, com agrado que reencontrei o humor (presente, por exemplo, no poema "Pastelaria") e a mordacidade que já antes apreciara neste autor («De forma que entrar nas tuas pernas / foi como entrar num Tribunal de Contas»).
Os textos reunidos neste livro foram escritos em 1945-46, antes de o autor se render ao surrealismo (relembre-se que o autor foi um dos introdutores deste movimento em Portugal, após a sua passagem por França e contactos com André Breton), pelo que não é de estranhar o pendor social de alguns poemas, próximos mesmo da estética neorrealista (que posteriormente criticou e rejeitou) - neles se evocam os operários e os desfavorecidos, e criticam-se os capitalistas e burgueses. Este livro inclui também "Louvor e Simplificação de Álvaro de Campos (fragmento)", poema que evoca e reinventa o estilo presente nas odes desse heterónimo pessoano (atente-se nos inícios dos anos 40 a Ática iniciou, pelas mãos de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor, a edição sistemática da obra de Fernando Pessoa, o que se traduziu numa melhor compreensão da dimensão do poeta); na nota de autor à primeira edição, Cesariny assume-o, porém, como «coisa em que cada um só deve cair uma vez». "Um Auto para Jerusalém" fecha o volume: trata-se de um texto dramático que critica, com muito humor, o Estado policial da ditadura, a injustiça social existente mas também a apatia dos intelectuais.
Segue-se a redescoberta, nos próximos dias, de "Pena Capital"...
Alguns poemas de Mário Cesariny podem ser lidos em poemapossivel.blogspot.pt
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