sábado, 20 de agosto de 2016

"Os Velhos Também Querem Viver", de Gonçalo M. Tavares

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Partindo de Alceste, de Eurípides, Gonçalo M. Tavares ensaia, com este Os Velhos Também Querem Viver, uma tentativa de recriar um episódio da mitologia grega, transpondo-o para o cerco de Sarajevo pelo exército sérvio nos anos noventa. Pessoalmente, achei um pouco gratuito este novo contexto: ser em Sarajevo durante a guerra da Bósnia nada acrescenta, nem há aparentemente qualquer justificação para tal cenário; aliás, achei a primeira estrofe do prólogo demasiado parecida com um parágrafo da Wikipedia.
Esta curta obra (eventualmente poética) trata do sacrifício de Alceste, mas também - e daí o título - da recusa de sacrifício do velho Feres. Atingido na cabeça pela bala de um sniper (em português "franco-atirador" ou "atirador furtivo"), Admeto estaria destinado a morrer; Apolo, porém, quer que ele viva e consegue que os deuses lhe comutem esse destino se houvesse alguém que por ele morresse. Ninguém mais se ofereceu (nem amigos, nem criados, nem o seu pai, Feres) a não ser a sua mulher Alceste (gesto feito por amor, ainda que Taveres não lhe dê grande expressão). O sobrevivente Admeto chora a morte de Alceste e mostra ressentimento contra o pai, por não se ter sacrificado por ele (com o argumento de este já ter vivido bastante tempo); Feres defende o seu direito à vida... Alceste acabará por ser resgatada à morte por Hércules, e assim se fecha a história.
Não deveria fazer muita diferença esta minha síntese ao enredo, pois o "modo" (isto é, a escrita) deveria justificar só por si a leitura. Porém, a meu ver, tal não acontece. As imagens utilizadas por Taveres, contrariamente a Uma Viagem à Índia (livro que, aliás, ando para reler - releitura que me permitirá confirmar este meu juízo), parecem-me algo pobres ou mesmo, lamento afirmá-lo, básicas; não encontrei nesta obra a frescura e inteligência dos jogos de linguagem e/ou de ideias que caracterizam a sua escrita. Um livro demasiado plano e pobre (apressado?) e, quase me arrisco a dizer sem ter lido a obra de Eurípides, que nada deve acrescentar ao escrito pelo autor grego.
Concluindo, não me parece dos escritos mais interessantes e conseguidos de Gonçalo M. Tavares.

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