domingo, 13 de dezembro de 2015

"A Genealogia da Moral", de Friedrich Nietzsche

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Não sendo eu um leitor muito frequente de filosofia, até por me sentir um tanto impreparado para certas leituras, senti-me desafiado a abordar A Genealogia da Moral, de Nietzsche, ao ler Os Detetives Selvagens, de Roberto Bolaño.
Nietzsche é, para mim, um pensador algo sombrio por ser excessivamente alegórico (penso, por exemplo, na confusão que senti ao ler Assim falou Zaratustra nos finais da adolescência) e pouco ou nada sistematizador. Neste A Genealogia da Moral, em que o autor procura criticar as bases da moralidade cristã vigente no Ocidente (vista como uma moral de fracos, sinónimo de decrepitude, de covardia, de acomodação, de pouca elevação - e assim opressora dos fortes, dos nobres, por lhes embaraçar a livre expressão dos seus instintos, ainda que irracionais ou violentos), encontrei sobretudo uma retórica combativa (ou talvez até um pouco destrutiva), sustentada em convicções nem sempre muito bem fundamentadas (assume, por exemplo, certos conceitos como válidos sem os discutir).
Nessa sua crítica à moral de matriz cristã (moral dos humilhados e fracos), Nietzsche rejeita o altruísmo, a compaixão, a abnegação, o sentimentalismo, a mansidão, a sobrevalorização do "bem", o ditadura da má consciência (do medo do pecado, do remorso); a esta antepõe uma "moral aristocrática" (dos poderosos, dos senhores), que atua com valentia, superioridade e indiferença face aos mais pequenos, com a alegria da destruição, com o prazer da vitória, do domínio e da crueldade. A cultura é mesmo apontada como um retrocesso, na medida em que domestica o Homem, tornando-o manso e fazendo-o reprimir os seus instintos animais - daí, postula Nietzsche, deriva a debilidade ou crise do homem ultracivilizado ocidental. No terceiro ensaio desta obra acaba por defender - utilizando uma terminologia com ligações à biologia (fazendo lembrar o que mais tarde os nazis farão) - o "direito" dos fortes em se "defenderem" (sem compaixão ou sentimentos de culpa, uma vez que são eles o garante da perpetuação humana) dos fracos... Ao ler esta obra, como facilmente se compreende, dei por mim várias vezes a pensar que as palavras do autor facilmente se prestam a interpretações dúbias, inclusivamente as que instrumentalmente defenderam os apoiantes do nazismo.
Por escrúpulos intelectuais não farei mais apreciações sobre o que li - exporia certamente as fragilidades e a superficialidade das minhas interpretações. Mas sempre posso dizer que esta não foi uma leitura especialmente proveitosa ou agradável. O tom sobranceiro, violento, intenso de Nietzsche, associado a uma lógica nem sempre congruente, a juízos históricos apressados e a uma fundamentação em muitos momentos frágil, simplesmente não me agradaram.

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