sexta-feira, 5 de junho de 2015

"D. Fernando", de Rita Costa Gomes

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Eis que, na sequência de D. João I, de Maria Helena da Cruz Coelho, lancei-me a ler D. Fernando, de Rita Costa Gomes. Tendo já lido as biografias (da coleção "Reis de Portugal") de D. Pedro I (pai de D. Fernando) e do sucessor de D. João I (D. Duarte), faltava preencher aquele "vazio". Genericamente ligo o reinado de D. Fernando à questão das guerras contra Castela (as três guerras fernandinas), a um período de fomes e epidemias (e suas consequências a nível social), à figura (muito ambígua) de D. Leonor Teles e à crise de sucessão após a sua morte (a sua filha D. Beatriz, recorde-se, havia casado com o rei de Castela fazendo perigar a independência nacional).
O trabalho de Rita Costa Gomes parece-me muito ponderado, problematizando os vários aspetos acima mencionados e não omitindo as dificuldades (como seja ultrapassar uma certa visão negativa que há deste monarca - um rei fraco, influenciado por Leonor Teles e sua família - e alguns aspetos calcificados a partir da crónica de Fernão Lopes) e os pontos mais sombrios (acerca da infância e juventude de D. Fernando, os estudiosos deparam-se com escassa informação, havendo necessidade de reconstituir estas fases da vida pelo que parece ser mais verosímil e provável). A política peninsular (a relação de Portugal com Castela e com os restantes reinos da Península) e as inflexões relativas à questão papal (o Cisma da igreja estala em pleno reinado de D. Fernando) são bastante bem exploradas e interrelacionadas nesta obra, o que resulta numa compreensão mais profunda de certas opções régias. Particularmente achei interessante conhecer as relações conturbadas mantidas com os seus meios irmãos (especialmente com D. João Castro e D. Dinis Castro, filhos do seu pai D. Pedro e de D. Inês de Castro), bem como o fim do seu reinado (a hipótese de envenenamento, a doença e o definhar nos seus últimos anos de vida).
Por último achei curiosos os textos (remetidos para anexo, embora fizesse sentido sintetiza-los numa introdução) "Esboço de uma mitografia do personagem de D. Fernando" (panorâmica sobre os várias visões sobre o rei ao longo dos séculos, destacando e problematizando os aspetos calcinados - os "mitos" -, que nem sempre são fáceis de ultrapassar) e "Leituras atuais sobre o rei e a época de D. Fernando" (revisão da historiografia do século XX até ao presente).
Próxima jornada (neste percurso pelas biografias régias) passará pelos reis D. Sancho II e D. Afonso III, cujos destinos, como é sabido, estão umbilicalmente ligados.

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