domingo, 7 de junho de 2015

"Bairro Ocidental", de Manuel Alegre

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Ultimamente não leio tanta poesia como noutros tempos. Resultará isso do facto de estar a envelhecer, e/ou de (espero que não) estar a perder uma certa predisposição lírica? Na verdade, não estou em condições de recusar tais razões, mas o que é certo é que nestes últimos anos (por motivos que não vou explorar aqui) tenho tido menos acesso a livros de poesia, especialmente a livros recentes e dos novos autores que vão surgindo.
A leitura de Bairro Ocidental, de Manuel Alegre, aconteceu porque, como noutros tempos, o decidi fazer numa visita a uma livraria. Manuel Alegre não será dos meus poetas de eleição, mas, ainda assim, não lhe nego o interesse (que, no seu caso, passa por uma maneira muito própria - pelo menos é essa a minha impressão, até me ser provado o contrário - de trabalhar o português, e por uma expressividade algo combativa ou resistente em intenção). Ao ler a poesia de Alegre não me afetam grandemente quaisquer preconceitos que pudesse ter pela sua condição de deputado ou pelo seu papel histórico (por exemplo, de redator do preâmbulo da nossa constituição); isto é, sempre que contacto com a sua poesia, acabo por encontrar um punhado de poemas que me agradam a um nível global, universal.
Neste livro, entre outros motivos de interesse, encontrei uma visão desencantada (cansada, por vezes revoltada) face à sombria realidade política e económica do nosso país (aos excessos do liberalismo económico, às restrições à soberania nacional, à por vezes traumatizante subordinação aos mercados - tema também tratado por Luís Filipe Castro Mendes, em A Misericórdia dos Mercados). Assim, na primeira parte deste livro encontramos poemas intitulados "Resgate" ou "Cassandra e a Troika", e vários versos de desalento e de revolta: «não sei ser português sem Portugal»; «Na Eurolândia tudo é permitido / bruxela-se um país berlina-se outro» (versos do poema "Bairro Ocidental"). Há também poema de teor - passe a pobreza do juízo - mais livre e lírico, em que mais claramente se nota o já mencionado cuidadoso trabalho com a palavra.

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