segunda-feira, 2 de março de 2015

"A Desumanização", de Valter Hugo Mãe

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 Quando há mais de uma década tomei conhecimento da existência de Valter Hugo Mãe, este autor ainda não havia editado o seu primeiro romance. Era um jovem poeta, ainda relativamente desconhecido, e um dos responsáveis pela Quasi, um projeto editorial que segui com muita curiosidade até à sua extinção. Entretanto, publicou uns quantos romances, livros para jovens, entre outros, e dinamiza um programa cultural num canal de televisão por cabo. Infelizmente, e apesar de ter continuado a seguir o seu percurso literário, deixei de acompanhar a sua poesia.
Não há muitos anos li o seu romance Filho de Mil Homens, depois de não me ter sentido cativado a abordar os seu "romances das minúsculas" (formalismo trazido da poesia, que nada acrescenta ou retira ao género romanesco, que foi muitas vezes tomado como uma vontade vaidosa mas vazia de mostrar singularidade pelos seus detratores). Para ser franco, não considerei Filho de Mil Homens um romance particularmente interessante, mas abracei a desculpa de que nem sempre é fácil escrever histórias de amor (muito pelo contrário, é muitíssimo difícil não cair na pieguice), e predispus-me a voltar aos romances do autor.
Foi com esta predisposição, bem como com a impressão positiva que guardo da personalidade cultural, que parti para a leitura de A Desumanização, obra que, aliás, recebeu muita atenção dos meios de comunicação social e críticas bastante positivas. Porém, de novo, não consegui ficar "fascinado" pela escrita romanesca de Valter Hugo Mãe. Tal como no romance anterior, a infância (e o crescimento e desenvolvimento da personalidade e do humanismo individual) enquadram a história. Halldora, a narradora de 11-12 anos, luta por sobreviver à perda da sua irmã gémea, e por crescer num contexto familiar devastado pela dor; a ação passa-se na Islândia mas isso, a meu ver, acaba por ser apenas mais um aspeto de contexto, ou mesmo uma marca estética. O cerne do romance está na abordagem da (já referida) dor, da violência, do crescimento, da formação da personalidade num contexto de desequilíbrio. O tom "ternurento" do livro anterior, ainda que se perca em parte, persiste.
Se estilisticamente considero a escrita de Hugo Mãe bastante rica e singular, devo assumir que não sou totalmente fã (será, pois, uma questão de gosto pessoal) de um certo excesso de efeitos metafóricos e apelos à sentimentalidade, à emotividade. Há, talvez, um excesso de sensibilidade na escrita romanesca deste autor que me afasta - com isto quero dizer que um leitor como eu, constantemente "estimulado" pequenas reflexões, imagens poéticas, frases tautológicas nem sempre com grande conteúdo, etc.), se perde da história, cai na distração, deambula indisciplinadamente pelos próprios pensamentos (nem sempre muito relacionados com o que se leu), até - infelizmente - se cair no cansaço. Talvez esse excesso esteja na procura constante do poético, do belo, da vinculação afetiva do leitor à palavra. Talvez seja algo parecido a isto (melhor não sei colocar por escrito) que não resulta a meu contento. O que fazer agora?

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