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Certo e sabido: este Memórias Póstumas de Brás Cubas é um daqueles romances a que sabe bem voltar. Apesar de ainda guardar na memória os contornos gerais, este romance é soberbo, verdadeiramente delicioso. Não é por acaso que Machado de Assis é muitas vezes comparado a Eça de Queiroz (e/ou vice-versa): não apenas foram contemporâneos, como partilharam a mesma finura no uso do humor, da ironia e do sarcasmo, recursos sobretudo postos ao serviço do olhar social - neste romance, diga-se, a crítica social é constante (as vaidades, as ambições, os limites da moral vigente, as hipocrisias, etc.).
Estas "memórias póstumas" - escritas, portanto, do outro mundo -, contando as aventuras e desventuras, amores e desamores de Brás Cubas, apareceram pela primeira vez no formato de folhetim, em 1880. Talvez isso explique, pelo menos parcialmente, a dimensão relativamente curta (de poucas páginas até meia dúzia de linhas) dos capítulos, iniciados ou encerrados ao sabor da disposição, do ânimo, da paciência do narrador - esta opção resulta muito bem, tremendamente fresca e leve. Além dos aspetos "formais" inovadores (a existência de capítulos como, como exemplo, o CXXXIX, "De como não fui Ministro de Estado" - formado por cinco linhas de reticências), que revelam a (aliás assumida logo no prólogo) influência do Tristram Shandy, de Laurence Sterne (livro que pretendo ler num futuro próximo), achei muito singulares as inúmeras referências cultas do livro (a filósofos, escritores, artistas), mas também os permanentes remoques ao leitor (apelando à sua paciência ou convidando-o a saltar capítulos, se o tema não for do seu agrado) e os comentários metaliterários («E vejam agora com que destreza, com que arte faço eu a maior transição deste livro.», Cap. IX).
Ao reler este livro pude confirmar o lugar de destaque em que o tenho colocado. Se a primeira leitura havia resultado numa surpresa, esta releitura resulta numa confirmação. Memórias Póstumas de Brás Cubas é, sem qualquer dúvida, um dos meus romances de eleição.
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