quinta-feira, 7 de novembro de 2013

"Engano", de Philip Roth


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Eu escrevo ficção e dizem-me que é autobiografia, escrevo autobiografia e dizem-me que é ficção, por isso, já que sou tão burro e eles são tão espertos, deixá-los a eles decidir o que é ou não é. (in Philip Roth, Engano)
Inteligente e original, Engano trata de infidelidades. Uma parte da originalidade está, a meu ver, na forma: o livro é composto por fragmentos de diálogos (uns curtos, outros longos, uns vazios - ou nem tanto -, outros bastante significativos) entre amantes; o leitor é, por isso, convidado a reconstituir a narrativa peça a peça (como num puzzle).
O personagem masculino, a viver um caso extraconjugal com uma mulher também ela casada, chama-se significativamente Philip, e é um escritor judeu americano a viver (e escrever) em Londres; alguns dos personagens (Nathan Zuckerman, Sra. Portnoy, etc.) das obras deste ficcional Philip coincidem com os personagens das obras do autor Philip Roth (coincidências?). Há, portanto, neste livro-caleidoscópio uma intenção deliberada de tornar o leitor cúmplice do "engano", ou, dito de outra forma, do entrecruzamento (ficcional, passe a repetição) entre ficção e realidade - ou, talvez ainda, da infidelidade entre verdade e mentira.
O amor, o sexo, o cansaço e as frustrações nos relacionamentos, a separação são alguns dos assuntos recorrentes do livro; mas, para além deles, os personagens dialogam sobre política, antissemitismo e literatura. Talvez a reflexão sobre este último ponto seja, afinal, o que justifica a obra.
Em suma, este é um livro leve (mas nunca "light", ou ligeiro), na medida em que se lê muito bem; mas, como já acima se escreveu, um livro inteligente e com bastante humor.

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