quinta-feira, 18 de abril de 2013

"Porque não sou Cristão", de Bertrand Russell


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A escrita do filósofo inglês Bertrand Russell, como já constatara noutras obras que dele lera, é relativamente simples de seguir, o que contribui para a clareza das suas exposições. Em "Porque não sou cristão" reúnem-se vários textos (de interesse desigual), que Russell escreveu nas décadas de 1920-50, em que se discute o papel da religião (e nomeadamente do Cristianismo), a questão da existência de Deus, a necessidade de rever certos preceitos ético-morais e sexuais, o confronto entre liberdade de pensamento e ideologias dogmáticas (sejam elas religiosas ou políticas) - um conjunto temático que ultrapassa, deste modo, o título que aparece na capa.
Este não é um livro que se possa ler a-historicamente, isto é, indiferentemente ao período em que foi escrito (recorde-se: ascensão de regimes totalitários na Europa, II Guerra Mundial, existência do regime comunista da União Soviética). Se a questão da existência ou necessidade de Deus é intemporal, porque irresolúvel, ou sempre atual o debate sobre a liberdade de pensamento e expressão, outras questões há (nomeadamente as que se referem a questões ético-morais) que se encontram ultrapassadas (dou como exemplo questões como a nudez, o adultério, a homossexualidade - tabus de outras eras que foram perdendo a razão de ser). Tal não significa, porém, que as posições de Russell, à data da publicação dos textos, não fossem inovadoras, e até algo avançadas (ao ponto de a sua nomeação em 1940 para uma instituição universitária americana ter gerado uma tremenda polémica, instigada pelos setores mais puritanos da sociedade). A evolução das sociedades ocidentais, e a ultrapassagem dos medos resultantes dos totalitarismo e da bipolarização do mundo (medos que algumas vezes desembocaram em exacerbações de intolerância, do género do macarthismo), é que retiraram a força original às suas posições cívicas. Nota-se também que algumas das referências científicas do autor, especialmente no domínio da psicologia, se encontram há muito desatualizadas.
Talvez o ponto mais frágil do livro seja mesmo na discussão da sensível questão do papel da religião e da existência ou necessidade de Deus: o autor enumera os pontos fracos que servem de prova à existência de Deus e à imortalidade da alma; refere as imperfeições e contradições do Cristianismo e os constrangimentos resultantes de certos preceitos da moralidade cristã (como no caso da vivência da sexualidade); associa a religião à recusa do progresso, mas também ao facto de esta, a seu ver, se fundar no temor (o medo do castigo, o peso do pecado, e sobretudo o medo da morte! - aspetos que condicionam o Homem); defende, por fim, que a  felicidade humana é possível sem religião. Para contrapor a argumentos provindos da teologia, Russell nem sempre tem a profundidade esperada - alturas há em que achei que os seus textos, ainda que conduzidos pelas suas convicções, eram algo simplistas. Ainda assim, em muitos pontos, Russell revela a força da sua inteligência.

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