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O que posso dizer deste livro? Antes de mais sublinho o que tem de comum com os dois anteriormente lidos: a persistência no problema da recuperação da memória. Tal como em Dora Bruder, este romance constrói-se em torno do esforço investigativo do personagem principal para resgatar a memória de um passado, neste caso o seu próprio passado (e com isso a sua própria identidade), que havia sido perdido de forma inexplicavelmente amnésica. Porém, ao contrário desse outro livro, em que o narrador não está diretamente vinculado a essa memória a recuperar, em Na Rua das Lojas Escuras o narrador age não só ativamente como interessadamente. E aqui é que as coisas perdem um pouco o encanto (já para não dizer a verosimilhança): o encadeamento das "pistas" é demasiado fácil e linear (uma informação leva a outra, a qual resulta graciosamente numa nova informação, e assim sucessivamente), sem grandes becos sem saída; por outro lado, os personagens que o ajudam são demasiada e incongruentemente dóceis e voluntaristas (oferecem-lhe ao primeiro contacto, à primeira troca de impressões, objetos significativos - fotos, livros, etc.).
Talvez o aspeto mais conseguido do livro (especialmente em termos narrativos) é o modo como o autor desenha a construção dessa memória: o caráter fragmentário, difuso dos primeiros passos vai gradualmente transformar-se em algo mais sólido, contribuindo para uma sensação de "degelo" da memória (o narrador começa a recuperar mais e mais elementos impressivos do seu passado).
Numa visão mais global, no entanto, este livro não me encantou. Considero que prometia - pese embora a já referida linearidade que achei um tanto excessiva - mais do que efetivamente concretiza; vago e impreciso, certamente para mimetizar o efeito de recuperação de uma memória olvidada, este romance acabou por me desiludir, não chegando (contrariamente ao que acontecera com Dora Bruder) a lado nenhum - isto porque chegar à Rua das Lojas Escuras foi, para mim, uma experiência demasiado pobre.