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Voltaire é o autor de um conjunto de obras que aprecio: Cândido, O Ingénuo, Zadig, Tratado sobre a Tolerância... A sua escrita, ainda que de um modo geral trate de questões de índole filosófica (o papel da religião, a liberdade, etc.), é surpreendentemente simples - mais simples, a avaliar pelas obras que pude ler até hoje, que a do seu contemporâneo Diderot, talvez literariamente mais sofisticada. É também uma escrita pautada pelo humor: a ironia (ou mesmo o sarcasmo) e o ridículo conferem-lhe qualquer coisa de picaresco.
Estas Memórias, ainda que tenham o seu interesse e sejam de leitura agradável, não são a meu ver um dos escritos com mais interesse do autor. Abarcando cerca de trinta anos, nestas "memórias" Voltaire descreve o contacto com algumas figuras do seu tempo, bem como a sua observação e/ou participação em vários acontecimentos da história da Europa. Assim, refere as intrigas e os ciúmes de uns, os desvarios e as vaidades de outros (Voltaire descreve, por exemplo, o rei prussiano Frederico II, em cuja corte viveu, como uma figura quase operática - nos seus gestos despóticos e arrogantes, nas suas pretensões literárias, mas também no seu sentido trágico), as maledicências do mundo político e intelectual, as ambições e os perigos da diplomacia europeia... Voltaire não faz qualquer esforço (que seria, de resto, inútil) para ser imparcial: conta as coisas a seu modo, defendendo ou justificando a sua posição (por exemplo, a sua intermediação diplomática entre Frederico II e Luís XV, rei de França, em pleno contexto da Guerra dos Sete Anos), ajustando contas com um ou outro inimigo...
Falta, porém, a este texto a graça de outros já mencionados. O relato, ainda que escorreito, pode não ser muito óbvio (ainda que a edição conte com duas cronologias anexas, uma referente ao percurso de vida de Voltaire e outra aos acontecimentos históricos), por lhe faltarem notas explicativas - estas possibilitariam num entendimento mais profundo do discurso e suas intenções. Por outro lado, o texto não sublinha a linha cronológica que o subentende, havendo longos períodos de tempo tratados em pouquíssimas páginas e outros, de caráter quase anedótico, mais aprofundados... Não sendo esta uma obra claramente literária, julgo "perdoáveis" tais características. O texto, longe de ser inocente, é um relato para a posteridade; a nós, leitores posteriores, resta-nos a tarefa de o pesarmos com a balança cultural de que dispomos...
Estas Memórias, ainda que tenham o seu interesse e sejam de leitura agradável, não são a meu ver um dos escritos com mais interesse do autor. Abarcando cerca de trinta anos, nestas "memórias" Voltaire descreve o contacto com algumas figuras do seu tempo, bem como a sua observação e/ou participação em vários acontecimentos da história da Europa. Assim, refere as intrigas e os ciúmes de uns, os desvarios e as vaidades de outros (Voltaire descreve, por exemplo, o rei prussiano Frederico II, em cuja corte viveu, como uma figura quase operática - nos seus gestos despóticos e arrogantes, nas suas pretensões literárias, mas também no seu sentido trágico), as maledicências do mundo político e intelectual, as ambições e os perigos da diplomacia europeia... Voltaire não faz qualquer esforço (que seria, de resto, inútil) para ser imparcial: conta as coisas a seu modo, defendendo ou justificando a sua posição (por exemplo, a sua intermediação diplomática entre Frederico II e Luís XV, rei de França, em pleno contexto da Guerra dos Sete Anos), ajustando contas com um ou outro inimigo...
Falta, porém, a este texto a graça de outros já mencionados. O relato, ainda que escorreito, pode não ser muito óbvio (ainda que a edição conte com duas cronologias anexas, uma referente ao percurso de vida de Voltaire e outra aos acontecimentos históricos), por lhe faltarem notas explicativas - estas possibilitariam num entendimento mais profundo do discurso e suas intenções. Por outro lado, o texto não sublinha a linha cronológica que o subentende, havendo longos períodos de tempo tratados em pouquíssimas páginas e outros, de caráter quase anedótico, mais aprofundados... Não sendo esta uma obra claramente literária, julgo "perdoáveis" tais características. O texto, longe de ser inocente, é um relato para a posteridade; a nós, leitores posteriores, resta-nos a tarefa de o pesarmos com a balança cultural de que dispomos...
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