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Poucas semanas de ter lido uma biografia relativa à juventude de Estaline, lancei-me na leitura deste Churchill, do historiador francês François Bédarida. Por curiosidade, é a segunda investida literária que faço no percurso deste personagem histórico.
O livro de Bédarida é menos profundo (no sentido de não ser tão exaustivo na relato de episódios e na descrição de alguns aspetos da vida do biografado - por exemplo, o biógrafo não destaca no seu texto o recebimento do Nobel da Literatura por Churchill, ainda que tal aspeto figure na cronologia anexa) que outras biografias de personalidade do século XX que li nos últimos anos (evoco, por exemplo, a biografia de Hitler, de Ian Kershaw, a de Estaline, de Simon Montefiore, ou a de Mussolini, de Pierre Milza); porém, esta acaba por se revelar uma biografia que, a meu ver, toca os pontos essenciais do percurso de vida e da personalidade (tão particular e cheia de contradições) de Winston Churchill, de uma forma fundamentada, rigorosa, clara e bem estruturada. A leitura de outras obras - penso nomeadamente em Segunda Guerra Mundial: À Porta Fechada. Estaline, os Nazis e o Ocidente, do jornalista-documentarista britânico Laurence Rees - permite-me afirmar que há pontos apenas superficialmente tocados, como seja a atuação negocial de Churchill com Estaline e Roosevelt durante a Segunda Guerra Mundial (o período de maior protagonismo do político inglês). Mas, repito, a obra de Bédarida como visão de conjunto, sem pretensões de maior erudição, é bastante conseguida e recomendável.
Churchill ocupa merecidamente um papel relevante na galeria das figuras de maior relevo do século XX. Não o digo partindo de qualquer juízo de valor prévio, mas crente que o seu papel moldou de alguma forma a segunda metade do século. É certo que o seu papel na Segunda Guerra Mundial à frente da resistente Grã-Bretanha e a sua rejeição do que o nazismo representavam a faceta eventualmente mais nobre de Churchill; mas a sua biografia é bastante mais rica. A obra de Bédarida começa por descrever as suas origens aristocráticas, a sua educação e a sua juventude aventureira (enquadrada pela ação militar no espaço imperial britânico e tendo como finalidade a busca de uma certa glória pessoal); mostra a sua entrada na política e a passagem por diversos cargos governamentais (nas pastas das colónias, do comércio, do interior, da marinha, das finanças, da guerra, etc.); a sua passagem pela Primeira Guerra Mundial e a queda na impopularidade (nos anos trinta esteve afastado da governação mas, para além de muito ativo ao nível da escrita, muito atento aos ventos nacionalistas e agressivos que varriam a Europa); a sua chefia governamental de 1940 a 1945 e as suas inegáveis capacidades de diplomacia e de liderança (Churchill é descrito como um homem aguerrido, afincado trabalhador, convicto na vitória); o seu ocaso político - que passa por um segundo mandato como primeiro-ministro sem muito brilho - até à sua retirada de cena.
É inegável o carisma de Churchill. Parte desse carisma advém, segundo o biógrafo, da imensa ambição, autoconfiança e vontade de glória pessoal de Winston. Desde cedo, Churchill revela o desejo de ser conhecido (ou reconhecido) seja pelos seus feitos militares (que ele próprio imortaliza nas reportagens que vende à imprensa), pelos seus escritos (inicialmente envereda pela escrita romanesca, além da escrita das suas reportagens), pelas suas iniciativas políticas (por vezes mais progressivas do que o espírito reinante nas fileiras conservadoras, onde se inseria) - segundo as suas próprias ideias, ele havia sido talhado para grandes feitos. O seu carisma bebe muito da determinação que revelou durante a Segunda Guerra Mundial (especialmente durante o período em que Inglaterra estava isolada) e da sua capacidade de insuflar energia e coragem à nação; sendo um excelente orador, conseguiu colocar nos seus discursos (muito burilados) várias fórmulas que ficaram para a História e que tiveram o efeito de emocionar e inspirar o seu público-alvo. Porém, longe de ser perfeito, Churchill revelou ao longo da sua vida vários aspetos menos positivos: por vezes, tendia a ser algo demagógico e mesmo calculista; ao longo da sua vida foi imperialista e colonialista (lutou até onde lhe foi possível para travar o processo de descolonização), acreditava na superioridade racial britânica, era machista e chauvinista, em certos momentos (nas suas opiniões e posições) mostrou-se instável...
Uma biografia historiográfica nunca pode ser confundida com uma hagiografia monocromática - se o é, significa que o autor fez uma mau trabalho historiograficamente falando (ainda que isso não invalide que possa ter feito um excelente trabalho hagiográfico); a obra de Bédarida é, na minha opinião, um trabalho equilibrado, sem exageros de tom ou patéticos rasgos de admiração. Cinge-se aos factos e pinta com tons moderados as características da personalidade churchilliana. Julgo ser um bom trabalho.
O livro de Bédarida é menos profundo (no sentido de não ser tão exaustivo na relato de episódios e na descrição de alguns aspetos da vida do biografado - por exemplo, o biógrafo não destaca no seu texto o recebimento do Nobel da Literatura por Churchill, ainda que tal aspeto figure na cronologia anexa) que outras biografias de personalidade do século XX que li nos últimos anos (evoco, por exemplo, a biografia de Hitler, de Ian Kershaw, a de Estaline, de Simon Montefiore, ou a de Mussolini, de Pierre Milza); porém, esta acaba por se revelar uma biografia que, a meu ver, toca os pontos essenciais do percurso de vida e da personalidade (tão particular e cheia de contradições) de Winston Churchill, de uma forma fundamentada, rigorosa, clara e bem estruturada. A leitura de outras obras - penso nomeadamente em Segunda Guerra Mundial: À Porta Fechada. Estaline, os Nazis e o Ocidente, do jornalista-documentarista britânico Laurence Rees - permite-me afirmar que há pontos apenas superficialmente tocados, como seja a atuação negocial de Churchill com Estaline e Roosevelt durante a Segunda Guerra Mundial (o período de maior protagonismo do político inglês). Mas, repito, a obra de Bédarida como visão de conjunto, sem pretensões de maior erudição, é bastante conseguida e recomendável.
Churchill ocupa merecidamente um papel relevante na galeria das figuras de maior relevo do século XX. Não o digo partindo de qualquer juízo de valor prévio, mas crente que o seu papel moldou de alguma forma a segunda metade do século. É certo que o seu papel na Segunda Guerra Mundial à frente da resistente Grã-Bretanha e a sua rejeição do que o nazismo representavam a faceta eventualmente mais nobre de Churchill; mas a sua biografia é bastante mais rica. A obra de Bédarida começa por descrever as suas origens aristocráticas, a sua educação e a sua juventude aventureira (enquadrada pela ação militar no espaço imperial britânico e tendo como finalidade a busca de uma certa glória pessoal); mostra a sua entrada na política e a passagem por diversos cargos governamentais (nas pastas das colónias, do comércio, do interior, da marinha, das finanças, da guerra, etc.); a sua passagem pela Primeira Guerra Mundial e a queda na impopularidade (nos anos trinta esteve afastado da governação mas, para além de muito ativo ao nível da escrita, muito atento aos ventos nacionalistas e agressivos que varriam a Europa); a sua chefia governamental de 1940 a 1945 e as suas inegáveis capacidades de diplomacia e de liderança (Churchill é descrito como um homem aguerrido, afincado trabalhador, convicto na vitória); o seu ocaso político - que passa por um segundo mandato como primeiro-ministro sem muito brilho - até à sua retirada de cena.
É inegável o carisma de Churchill. Parte desse carisma advém, segundo o biógrafo, da imensa ambição, autoconfiança e vontade de glória pessoal de Winston. Desde cedo, Churchill revela o desejo de ser conhecido (ou reconhecido) seja pelos seus feitos militares (que ele próprio imortaliza nas reportagens que vende à imprensa), pelos seus escritos (inicialmente envereda pela escrita romanesca, além da escrita das suas reportagens), pelas suas iniciativas políticas (por vezes mais progressivas do que o espírito reinante nas fileiras conservadoras, onde se inseria) - segundo as suas próprias ideias, ele havia sido talhado para grandes feitos. O seu carisma bebe muito da determinação que revelou durante a Segunda Guerra Mundial (especialmente durante o período em que Inglaterra estava isolada) e da sua capacidade de insuflar energia e coragem à nação; sendo um excelente orador, conseguiu colocar nos seus discursos (muito burilados) várias fórmulas que ficaram para a História e que tiveram o efeito de emocionar e inspirar o seu público-alvo. Porém, longe de ser perfeito, Churchill revelou ao longo da sua vida vários aspetos menos positivos: por vezes, tendia a ser algo demagógico e mesmo calculista; ao longo da sua vida foi imperialista e colonialista (lutou até onde lhe foi possível para travar o processo de descolonização), acreditava na superioridade racial britânica, era machista e chauvinista, em certos momentos (nas suas opiniões e posições) mostrou-se instável...
Uma biografia historiográfica nunca pode ser confundida com uma hagiografia monocromática - se o é, significa que o autor fez uma mau trabalho historiograficamente falando (ainda que isso não invalide que possa ter feito um excelente trabalho hagiográfico); a obra de Bédarida é, na minha opinião, um trabalho equilibrado, sem exageros de tom ou patéticos rasgos de admiração. Cinge-se aos factos e pinta com tons moderados as características da personalidade churchilliana. Julgo ser um bom trabalho.
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