quarta-feira, 1 de outubro de 2014

"O Jovem Estaline", de Simon Sebag Montefiore

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Quando há uns anos atrás li Estaline - A Corte do Czar Vermelho, de Simon Sebag Montefiore (obra que retrata o período enquanto líder da União Soviética), fiquei com imensa vontade de ler o livro que o autor dedicou à juventude de Estaline. Os livros do jornalista e historiador não académico Simon Montefiore, dirigidos ao público em geral (interessado mas não especializado), têm a vantagem de ser claros (mesmo que nem sempre chamando a atenção para os espaços em branco não resolvidos), bem escritos e razoavelmente fidedignos (pesem embora, aqui e além, alguns juízos de valor e ideias pré-concebidas - felizmente, na minha leitura não suficientes para desvalorizar-lhe o esforço).
Este livro em particular, premiados várias vezes e bastante bem recebido pela crítica (literária mas também especializada; esta sublinhou que o autor conseguiu trazer à luz do dia alguns aspetos desconhecidos do percurso do ditador), aborda a juventude de Estaline - num conceito alargado de "juventude", porque, de modo mais concreto, este livro aborda aproximadamente os primeiros quarenta anos de vida dessa figura (desde o seu nascimento, em 1878, até à tomada do poder pelos bolcheviques na Rússia, em 1917). Assim, nestas páginas abordam-se os seguintes aspetos: a sua infância na Geórgia (e a questão da sua paternidade duvidosa); a sua entrada na escola e primeiros contactos com o marxismo; a sua passagem pelo seminário e o processo de substituição da fé cristã pelo fervor revolucionário; o seu aprofundamento como revolucionário, as suas primeiras ações junto às massas e a direção de grupos bolcheviques; a passagem à vida subversiva e clandestina e o recurso à ação violenta e mesmo criminosa (participação em assassínios, assaltos a bancos, atos de extorsão, etc.); as várias passagens pela prisão e deportações para a Sibéria e as várias fugas; os contactos com Lenine e o relacionamento (nem sempre pacífico) com vários revolucionários; as ligações amorosas e os filhos legítimos e ilegítimos resultantes dessas relações; a participação na queda do regime czarista e na ascensão dos bolcheviques ao poder.
O "jovem" Estaline é-nos apresentado como uma figura inteligente (com grandes capacidades de organização, bem como de escrita), estudiosa (apaixonado por livros), mas simultaneamente fria, dissimulada, calculista, desconfiada (até à paranoia), conspirativa, vingativa (raramente esqueceu quem o afrontou em algum momento) e, sempre que se lhe afigurava necessário, violenta. A obra de Montefiore permite perceber o contexto em que cresceu aquele que viria a ser Estaline (o "Homem de Aço", traduzido à letra) e o gradual desenvolvimento da sua personalidade e da sua ambição.
Em suma, uma obra que se lê tremendamente bem e bastante informativa; o aspeto menos positivo desta versão "livro de bolso" é, em algumas passagens, a falta das notas bibliográficas, que poderiam ajudar ao esclarecimento da origem de certas citações.

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