sexta-feira, 19 de setembro de 2014

"Senilidade", de Italo Svevo

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Italo Svevo é, quase certamente, a minha descoberta literária deste ano. Após descobrir a (e me apaixonar pela) novela Um Embuste Perfeito, parti para a leitura do seu romance mais aclamado, A Consciência de Zeno; com esta segunda leitura, descobri uma obra (para mim) maior da literatura (ainda que talvez ensobrada por outras mais afamadas) e confirmei ter encontrado um grande autor. O próprio percurso literário de Svevo (um literato que, depois de escrever dois romances ignorados pela crítica, quase desistiu da escrita, encontrando no seu amigo James Joyce o incentivo para produzir mais) talvez contribua para passar um pouco despercebido - ao que sei, o conjunto da sua obra é relativamente curto.
Este Senilidade, apesar de não uma obra tão refinada quanto A Consciência de Zeno, já contém algumas características que me fazem gostar da escrita de Svevo: a elegância, os aspetos psicológicos dos personagens, a descrição da vida da burguesia (e nomeadamente da moral vigente). Trata da paixão (e na sua dificuldade em geri-la) de Emílio Brentani, um escritor ignorado e funcionário de um seguradora, por Angelina Zarri, uma mulher sedutora e promíscua.
Achei este livro bastante bem escrito e, claro está, pretendo ler mais obras de Svevo.

sábado, 13 de setembro de 2014

"O Duplo", de Fedor Dostoievski

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A leitura deste livro, O Duplo, obra segue-se à recente tentativa (falhada, aliás) de ver o filme nele inspirado recentemente exibido nos cinemas (um aspeto curioso, julgo eu, é quase simultaneidade do aparecimento da versão cinematográfica do romance O Homem Duplicado, de José Saramago, romance que, de certo modo, trata o mesmo tema).
Dostoievski é, inegavelmente, um dos meus romancistas de culto. Sintomaticamente, neste ano e meio de blogue já li e/ou reli uma mão cheia de obras deste autor; a verdade é que sinto com alguma frequência a necessidade de regressar a elas.
Este livro retrata o aparecimento na vida do funcionário Goliádkin de um duplo, isto é, de uma sósia completamente igual a si, até no nome e nas origens. Tal facto, desconcerta bastante o protagonista, apesar de, estranhamente, não afetar os outros do mesmo modo. À medida que o seu duplo lhe vai usurpando a identidade, cresce em Goliádkin a convicção de uma maquinação contra si.
Dostoievski, neste que foi o seu segundo livro, publicado em 1846 logo após Gente Pobre, descreve de forma magistral o mundo altamente hierarquizado e burocratizado do funcionarismo; o autor é igualmente exímio a retratar os tiques psicológicos do protagonista, a sua angústia, desorganização e até mesmo paranoia. Mesmo não sendo uma das suas obras maiores, já se consegue vislumbrar em O Duplo algumas das características da fase mais madura do autor.

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

"Esteiros", de Soeiro Pereira Gomes

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Publicado em 1941, Esteiros é comummente apontado como uma das principais obras do chamado neorrealismo português. Muitas vezes apontado como um "romance juvenil" (o exemplar que possuo e li pertence a uma coleção sintomaticamente chamada "Grandes Romances da Literatura Juvenil), talvez por retratar o percurso de uns quantos miúdos e pela sua linguagem simples (ainda que contando com alguns regionalismo e termos mais arcaicos), julgo que Esteiros ultrapassa em muito essa designação.
Tendo-o recebido no meu décimo segundo ou décimo terceiro aniversário, numa idade em que basicamente lia histórias de aventuras e banda desenhada, foi um dos primeiros livros "sérios" que terei lido. Recordo-me de o ler numas férias de Verão, agachado nas frescas escadas de pedra da casa dos meus avós, e de sentir algumas dificuldades no vocabulário, que me obrigaram a algumas viagens até ao dicionário. Recordo-me igualmente de sentir-me algo impressionado com a vida árdua dos miúdos (que, então, tinham mais ou menos a minha idade) retratados naquelas páginas...
O regresso a Esteiros não se fez, pois, sem uma certa nostalgia. Longe de achar este livro infantil, tive grande prazer na releitura desta obra. Hoje talvez o impacto emocional seja menor ou, pelo menos, diferente, mas, por outro lado, valorizei mais a componente estritamente literária da mesma. Desde logo, a história é bastante interessante e muito bem escrita, com inteligência e sensibilidade; os capítulos curtos, a estrutura quadripartida (Outono, Inverno, Primavera, Verão), os muitos diálogos e o timbre rústico de certas falas são características compreensivelmente apelativas para jovens leitores, mas, de novo, julgo que o serão para qualquer leitor.
Soeiro Pereira Gomes retrata o percurso de uns quantos miúdos esfarrapados (Gineto, Gaitinhas, Maquineta, entre outros) de uma vila ribatejana situada nas margens ricas em barro do Tejo, forçados pelas circunstâncias a perder a meninice. As constantes dificuldades, ou mesmo a miséria, pontuam a vida dos populares (miúdos e graúdos) retratados em Esteiros; estes têm que se sujeitar a condições de trabalho árduas, precárias (e sazonais), mal remuneradas. Há, assim, nesta obra um esforço claro de denúncia às desigualdades e injustiças sociais da sociedade portuguesa das décadas de 1930 e 40 (a ação desenrola-se, portanto, em pleno Estado Novo), mas também a descrição do atraso do país em termos produtivos.
A meu ver é, pese embora o seu caráter ideológico, uma obra muito consistente e recomendável da literatura portuguesa.

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

"A Sentinela", de Richard Zimler

Desta vez, aconteceu-me ler dois policiais de seguida: depois de O Cego de Sevilha, de Robert Wilson, li a última obra de Richard Zimler, A Sentinela, livro que, ao requisitar um outro na biblioteca pública, vi no escaparate dos destaques e decidi (sem grande convicção) levar para casa. A referência que tenho deste autor americano radicado em Portugal provem da leitura de outros dois livros: O Último Cabalista de Lisboa (livro que apreciei) e Os Anagramas de Varsóvia (na altura achei este livro muito parecido com o anterior).
Após a leitura de três livros, julgo poder afirmar que a escrita de Zimler, escorreita e leve, contribui para tornar agradável a leitura. Porém, no que se reporta à história propriamente dita, bem como ao modo de a narrar, nem sempre me parece que Zimler ultrapasse a mediania. Isto é: a meu ver o autor escreve bem, mas nem sempre aquilo que escreve resulta num livro memorável.
Em A Sentinela, o leitor acompanha a investigação, conduzida pelo inspetor da Polícia Judiciária de Lisboa Henrique Monroe, referente ao homicídio de um elemento da elite económica e social do país. A parte policial do romance é, na minha opinião, um pouco pobre, não gerando o suspense de outras obras do mesmo género literário (quando se conhece já o assassino e os seus motivos, Zimler tenta agitar as águas apontando conspirativamente para o pináculo sombrio e corrupto do poder, sem que tal resulte grandemente...); apesar de tudo, achei um pouco mais interessante a maneira como o autor retrata o passado de Monroe (e do seu irmão) e a forma como esse passado definiu a sua identidade.
Provavelmente não será, ao contrário dos outros dois livros citados do autor, objeto de releitura no futuro.