sábado, 10 de maio de 2014

"Mystic River", de Dennis Lehane

Visite-nos em https://www.facebook.com/leiturasmil.blogspot.pt
Ler o romance que está na origem de um grande filme é sempre arriscado; o mesmo, talvez ainda com mais propriedade, se pode dizer do contrário: normalmente, as adaptações cinematográficas das grandes obras da literatura – ou até uma obra literária não tão marcante – ficam aquém da obra original. Mas, como em tudo na vida, são muitos os exemplos de boas adaptações cinematográficas de obras-primas literárias (penso, por exemplo, em O Leopardo, excelente filme de Luchino Visconti que parte do igualmente soberbo romance de Giuseppe Tomasi di Lampedusa; penso n’O Processo, realizado por Orson Welles, que, mesmo não tão marcante quanto o livro de Kafka, consegue ainda assim ser bastante apelativo), e de livros apenas bons ou razoáveis que deram origem a obras-primas da chamada sétima arte (penso, neste caso, na adaptação fílmica feita por Visconti do livro A Morte em Veneza, de Thomas Mann).
Feitas estas considerações, posso dizer que parti para a leitura de Mystic River, de Dennis Lehane, com aquela desconfiança de quem sabe ser difícil ultrapassar a excelência do filme (isto porque considero a obra realizada por Clint Eastwood um dos últimos grandes “clássicos” de Hollywood – não me perderei, neste ponto, a justificar esta minha convicção). Porém, o livro acabou por agradar-me (ainda que considere o filme superior), justificando plenamente a leitura.
A história centra-se no assassinato de Katie, filha de Jimmy Marcus (um homem com um passado no crime, ainda que reabilitado), e na investigação policial levada a cabo pelo seu amigo de infância Sean Devine. Outro personagem relevante é Dave Boyle, perseguido por um episódio do seu passado – Dave fora levado por dois abusadores sexuais, momento testemunhado pelos seus amigos Jimmy e Sean…
Dennis Lehane tem uma escrita muito impressiva, visual (direi mesmo cinematográfica), e sobretudo centrada na ação (os diálogos são frequentes, bem com a descrição do agir dos personagens), embora consiga ser feliz – realista, intenso – nas passagens de maior densidade psicológica (o processo de luto de Jimmy, a dor profunda de Dave, etc.). Devo dizer que esta realidade psicológica (compreensivelmente tratada no romance de modo distinto do filme – a descrição de estados psicológicos é mais difícil de trabalhar no cinema) me fez valorizar ainda mais o trabalho de Clint Eastwood.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Obrigado pelo seu contributo. O seu comentário será publicado em breve.