segunda-feira, 23 de setembro de 2013

"D. João V", de Maria Beatriz Nizza da Silva

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A décima primeira biografia da coleção "Reis de Portugal" que li incidiu sobre D. João V, figura algo controversa - ora tratado com antipatia (tem sido repetidamente caracterizado como "esbanjador", "beato", "megalómano"), ora com simpatia (em especial por aqueles que estudam as obras de arte patrocinadas nesse período).
Tal como noutras obras coletivas, a coleção "Reis de Portugal" apresenta textos muito desiguais. Isto acontece porque, por um lado, abordam períodos históricos muito diferentes (com grandes variações na quantidade e qualidade das fontes disponíveis); por outro lado, porque cada autor tem o seu próprio entendimento conceptual quanto ao labor biográfico (privilegiando determinadas metodologias e ângulos de abordagem em detrimento de outros); a acrescentar a isto, podemos ainda referir o aspeto formal, ou seja, tanto a estrutura das biografias, como a própria qualidade da escrita (se alguns autores conseguem - sem fugir ao rigor - alguma qualidade literária, outros não arriscam sair da escrita académica, desapaixonada e neutra). O resultado, como expectável, é um conjunto de textos com interesses muito diferentes.
Pessoalmente, não considero este D. João V, de Maria Beatriz Nizza da Silva, como um dos livros mais interessantes da coleção (considerando os até agora lidos). A obra está dividida em quatro partes (ou três, se excluirmos a primeira parte, que funciona como um curta introdução ao tema), bastante desiguais em termos de dimensão: a Parte II conta com 138 páginas, divididas  em 15 capítulos; a Parte III tem 54 páginas, e 12 capítulos; a Parte IV soma 76 páginas, divididos em 3 capítulos, o primeiro dos quais com 57 páginas (das quais 41 apenas sobre o Brasil) e o último com apenas 2. Não é, assim, um texto estruturalmente muito equilibrado - aspeto que apenas refiro porque foi notório na minha leitura do mesmo...
A autora decidiu abordar na Parte II ("D. João, Príncipe e Rei") os aspetos biográfico e contextuais, mas, na minha opinião, acaba por ser demasiado descritiva  (senti falta de mais espírito de síntese e de análise), talvez por seguir muito de perto uma fonte também ela descritiva - as gazetas (constantemente citadas e transcritas). Deste modo, relatam-se (por vezes com excessiva minúcia) cerimónias públicas várias, certos elementos decorativos, reflexos de acontecimentos nacionais no Rio de Janeiro, etc.; o anedótico (nem sempre referente a D. João V), o pormenor meramente ilustrativo e o puramente periférico abundam nestas páginas, e há mesmo um capítulo caracteristicamente generalista intitulado "Como se divertia a nobreza". A terceira parte ("Administração e Funcionamento das Instituições") consegue ser um pouco mais interessante, na medida em que se pretende mostrar como o rei tomava as suas decisões. A última parte, refere-se às "Políticas Régias", dando-se, como já se disse, um enorme destaque aos assuntos coloniais.
Concluo esta breve apreciação com uma última nota: compreendo que certos reis sejam complicados de estudar (ou porque aparecem de fugida nas escassas fontes, ou porque demasiado disfarçados na "regra" - isto é, numa imagem pública intencionalmente manipulada -, etc.), mas tenho mais dificuldade em entender quando os aspetos contextuais se sobrepõem de uma forma esmagadora ao biografado. Bem sei - já o notara noutros textos desta coleção - que alguns autores entendem a biografia de um rei quase exclusivamente como a "biografia de um reinado", mas do meu ponto de vista isso, de certo modo, acaba por afastar os leitores não académicos...

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