domingo, 29 de setembro de 2013

"A Laranja Mecânica", de Anthony Burgess

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Uma melenque (que é como quem diz pequena) surpresa este A Laranja Mecânica, apesar de já conhecer a história através do magnífico filme de Stanley Kubrick. Em poucas palavras, esta obra - que encerra uma certa matiz distópica - aborda a violência (exercida de forma arbitrária e por prazer por grupos de jovens marginais), roçando também a problemática do castigo, do livre-arbítrio e da instrumentalização política. O humor, porém, anda sempre presente.
Se o filme (que aproveitei para rever) tem uma estética muito própria, que a meu ver potencia o enredo, o livro vai buscar uma certa originalidade pelo emprego de um vocabulário próprio (o "nadescente", a linguagem dos adolescentes). Se tal obriga, de início, a permanentes consultas ao glossário final, o leitor gradualmente assimila a maioria das dezenas de vocábulos. Devo dizer que, na minha perspetiva, a tradução de José Luandino Vieira é excelente.
Para finalizar, julgo que é um livro que termina de uma forma engraçada: se por um lado é um final fechado (o percurso de Alex, o personagem principal e narrador), por outro é um final aberto... É, pois, um horroróico livro...

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

"O Jogador", de Fedor Dostoievski

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Eis aqui - passe a expressão - uma boa aposta: a releitura de "O Jogador", novela do russo Dostoievski passada em Ruletemburgo. Alexei Ivanovich, preceptor de uma família praticamente arruinada da aristocracia russa, é o personagem principal e o narrador desta cativante história, que cruza amores e inimizades, intrigas e ambições, e - claro está - a vertigem da roleta. Polina, o general, a avó, Mr. Ashley, De Grillet, Madame Blanche, são outros dos marcantes personagens desta obra.
Que mais posso escrever? Uma obra que - longe de ser uma das mais elaboradas do autor - se lê com muito agrado, permitindo identificar o génio do seu autor...

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

"D. João V", de Maria Beatriz Nizza da Silva

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A décima primeira biografia da coleção "Reis de Portugal" que li incidiu sobre D. João V, figura algo controversa - ora tratado com antipatia (tem sido repetidamente caracterizado como "esbanjador", "beato", "megalómano"), ora com simpatia (em especial por aqueles que estudam as obras de arte patrocinadas nesse período).
Tal como noutras obras coletivas, a coleção "Reis de Portugal" apresenta textos muito desiguais. Isto acontece porque, por um lado, abordam períodos históricos muito diferentes (com grandes variações na quantidade e qualidade das fontes disponíveis); por outro lado, porque cada autor tem o seu próprio entendimento conceptual quanto ao labor biográfico (privilegiando determinadas metodologias e ângulos de abordagem em detrimento de outros); a acrescentar a isto, podemos ainda referir o aspeto formal, ou seja, tanto a estrutura das biografias, como a própria qualidade da escrita (se alguns autores conseguem - sem fugir ao rigor - alguma qualidade literária, outros não arriscam sair da escrita académica, desapaixonada e neutra). O resultado, como expectável, é um conjunto de textos com interesses muito diferentes.
Pessoalmente, não considero este D. João V, de Maria Beatriz Nizza da Silva, como um dos livros mais interessantes da coleção (considerando os até agora lidos). A obra está dividida em quatro partes (ou três, se excluirmos a primeira parte, que funciona como um curta introdução ao tema), bastante desiguais em termos de dimensão: a Parte II conta com 138 páginas, divididas  em 15 capítulos; a Parte III tem 54 páginas, e 12 capítulos; a Parte IV soma 76 páginas, divididos em 3 capítulos, o primeiro dos quais com 57 páginas (das quais 41 apenas sobre o Brasil) e o último com apenas 2. Não é, assim, um texto estruturalmente muito equilibrado - aspeto que apenas refiro porque foi notório na minha leitura do mesmo...
A autora decidiu abordar na Parte II ("D. João, Príncipe e Rei") os aspetos biográfico e contextuais, mas, na minha opinião, acaba por ser demasiado descritiva  (senti falta de mais espírito de síntese e de análise), talvez por seguir muito de perto uma fonte também ela descritiva - as gazetas (constantemente citadas e transcritas). Deste modo, relatam-se (por vezes com excessiva minúcia) cerimónias públicas várias, certos elementos decorativos, reflexos de acontecimentos nacionais no Rio de Janeiro, etc.; o anedótico (nem sempre referente a D. João V), o pormenor meramente ilustrativo e o puramente periférico abundam nestas páginas, e há mesmo um capítulo caracteristicamente generalista intitulado "Como se divertia a nobreza". A terceira parte ("Administração e Funcionamento das Instituições") consegue ser um pouco mais interessante, na medida em que se pretende mostrar como o rei tomava as suas decisões. A última parte, refere-se às "Políticas Régias", dando-se, como já se disse, um enorme destaque aos assuntos coloniais.
Concluo esta breve apreciação com uma última nota: compreendo que certos reis sejam complicados de estudar (ou porque aparecem de fugida nas escassas fontes, ou porque demasiado disfarçados na "regra" - isto é, numa imagem pública intencionalmente manipulada -, etc.), mas tenho mais dificuldade em entender quando os aspetos contextuais se sobrepõem de uma forma esmagadora ao biografado. Bem sei - já o notara noutros textos desta coleção - que alguns autores entendem a biografia de um rei quase exclusivamente como a "biografia de um reinado", mas do meu ponto de vista isso, de certo modo, acaba por afastar os leitores não académicos...

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

"Noites Brancas - romance sentimental das memórias de um sonhador", de Fedor Dostoievski

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Eis uma obra que marcou uma certa fase da minha vida: Noites Brancas, "romance sentimental". Se não estou em erro, li esta novela (conjuntamente com O Jogador) antes de me lançar na descoberta das obras maiores de Dostoievski (antes também, portanto, de colocar este autor no meu "panteão" literário).
De que trata esta curta obra, escrita por Dostoievski antes de atingir os 30 anos? Trata do "sonhador", encarnado pelo narrador e personagem principal, um solitário com bom coração que ama deambular pela sua São Petersburgo enquanto observa os outros e lhes adivinha as vidas; um jovem excessivamente delicado, bastante ingénuo, sem qualquer sentido de ridículo, pouco adaptado à urbanidade pragmática das relações sociais; um caráter exageradamente honesto e sincero, propenso a descarregar o coração, em partilhar os seus sentimentos sem proceder a qualquer filtragem («Quando o meu coração fala, não sei calar-me»), disposto a sacrificar-se pelo outro; em suma: um ser "genuíno" (mas também, por isso mesmo, um ser exótico, inadaptado).
O encontro com Nástenka, uma jovem de dezassete anos, vai funcionar como o culminar da vida do nosso herói (esse encontro era há muito sonhado, desejado, esperado), mas igualmente como o abrir de novas perspetivas (anteriormente insuspeitadas ou tidas por impossíveis)... O destino dos dois personagens principais é baralhado - ainda que de formas díspares - pela presença do amor...
Dostoievski não é um autor romântico (no sentido literário e/ou estético do termo), mas em Noites Brancas o autor emprega magistralmente todos os tiques do sentimentalismo romântico (pense-se por exemplo no discurso expressivo e carregado de emotividade do narrador que, como nota Nástenka, fala de forma bela, "como quem lê um livro em voz alta"...); em certas passagens, porém, parece ridicularizar o exagero lamechas dos românticos («Vou sonhar contigo toda a noite, toda a semana, um ano inteiro»)...
Um livro que, mesmo se menor dentro do conjunto da obra do autor russo, ainda me encanta...

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

"Uma Agulha no Palheiro", de J. D. Salinger

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"Uma Agulha no Palheiro", de J. D. Salinger, é um livro que, sem ser nenhuma maravilha literária, se lê muito bem. A escrita é acessível e agradável (porque concreta e centrada na ação, pontuada por frases curtas e muitos diálogos), e coaduna-se bem com as características do narrador-personagem principal.
Acabado de ser excluído do colégio onde era interno, Holden Cauldfield, jovem de dezassete anos, passa três dias deambulando por Nova Iorque. Se com isto adia o reencontro com os pais, Holden não gosta de estar só, procurando o contacto com conhecidos e desconhecidos. A juventude, a confusão e uma certa imaturidade são notórias no discurso do personagem - às vozes "sensatas" dos adultos (relativamente ao seu percurso escolar, ao seu futuro), Holden contrapõe a sua visão descentrada de qualquer propósito ou objetivo e até, por vezes, amarga, desencantada...