segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

"Requiem. Uma alucinação", de Antonio Tabucchi

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Como escrevi há relativamente pouco tempo (a propósito de A cabeça perdida de Damasceno Monteiro), tinha vontade de ler, «(...) graças à adaptação cinematográfica de Alain Tanner», Requiem. Uma alucinação, de Antonio Tabucchi. Quis o destino que tal obra existisse na biblioteca local.
Apesar de alguns pontos em comuns (um certo imaginário tabucchiano da "portugalidade" popular), Requiem é uma obra bastante diferente daquela que reli em novembro passado. Tal como se lê no título, define-se como "uma alucinação" - fica, portanto, claro o caráter onírico da narrativa; tem igualmente uma dimensão deambulatória, uma vez que o narrador se passeia por uma cidade de Lisboa algo deserta, num abafado domingo de julho. O dito narrador, que se encontrava em férias em Azeitão dormitando sobre um livro de Pessoa, combinara um encontro com o fantasma do poeta português às doze horas (!) - por muito incongruente que parece a frase que escrevi, este é o mote da obra de Tabucchi. Durante meio dia, percorre alguns locais da capital (Cemitérios dos Prazeres, uma pensão de quartos à hora, Museu Nacional de Arte Antiga, Cascais, Casa do Alentejo, Praça do Comércio) e imediações e interage com vários personagens caricatos (um drogado, um cauteleiro, um taxista, uma cigana, um pintor copista, um revisor de comboio, fantasmas de pessoas conhecidas, entre outros), até finalmente se encontrar com o poeta num restaurante - um estudioso Pessoa com o seu objeto de estudo...
O volume encerra com um texto ensaístico em que o autor procura explicar a génese do presente romance, dando especial destaque à forma como referências biográficas pessoais (a doença do pai) entraram no texto ficcional.
Requiem. Uma alucinação dificilmente poderá ser considerada uma obra literária obrigatória; mas certo é que conseguiu proporcionar-me um grande prazer. O seu caráter deambulatório, a simplicidade, as referências à cultura portuguesa (e não só) vão muito ao encontro do meu gosto. Talvez um destes dias a acrescente à minha biblioteca, pois sempre conto relê-la mais à frente.

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