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Vítor Hugo é uma das minhas muitas falhas literárias: deste autor apenas li esta pequena obra - O Último Dia dum Condenado. Pequena e eventualmente menor em termos literários, se atentarmos a outras obras do autor, como sejam Os Miseráveis ou Nossa Senhora de Paris (que tenciono um dia ler), mas nem por isso menor em interesse.
Trata-se de um manifesto contra a pena de morte, publicado anonimamente em 1829, e que viria a gerar alguma polémica - não apenas pela controvérsia do tema, mas sobretudo pela forma algo cirúrgica (como se fosse uma "autópsia intelectual", nas palavras do narrador) como tratou os sentimentos, angústias, sofrimentos, humilhações de um condenado à morte, condenado esse acerca do qual o leitor desconhece o nome ou a sua história (além de que cometeu um crime de sangue, de que se reconhece culpado, e que deixa uma filha de três anos, a mulher e a mãe - que, afinal, também acabam por ser condenadas: à orfandade, à viuvez, à desonra).
Após conhecer a sentença, o condenado é conduzido para o cárcere de Bicêtre (no qual aguarda seis semanas até ser apreciado o seu recurso). Aí decide escrever um relato das suas emoções, «(...) o único meio de sofrer menos com tais angústias é observá-las, e ao pintá-las distrair-me-ei delas.»; escreve para a posteridade e para fazer refletir os que à morte condenam (ainda que o seu idealismo vacile: «Quando a minha cabeça tiver sido cortada, que me interessa que cortem outras?»). A morte está sempre presente, por é praticamente inevitável, e apesar de todos os esforços de racionalização - nomeadamente que a guilhotina garante uma morte indolor, que seria pior uma condenação a trabalhos forçados perpétuos, etc. - acaba por não conseguir afastar alguma esperança. Os que o rodeiam neste último dia de vida (os guardas, o padre, etc.) não compreendem a sua angústia - para eles, afinal, a vida continua, e aquele homem condenado pouco lhes diz...
No prefácio à edição de 1832, Hugo é brilhante: argumenta abertamente contra a ignomínia da pena de morte, justificando as razões que o levaram a escrever O Último Dia dum Condenado e porque o fez de uma forma despessoalizada (para abranger todos os condenados). Faz algumas considerações de índole social perfeitamente atuais, nomeadamente quando associa as origens miseráveis e a falta de instrução (sem que isso fosse culpa sua) à queda no crime.
É, pois, um relato espantoso, emocionalmente intenso sem cair no melodramatismo, em muitos aspetos mais realista que romântico. Seguramente uma obra a que conto regressar mais vezes.
Trata-se de um manifesto contra a pena de morte, publicado anonimamente em 1829, e que viria a gerar alguma polémica - não apenas pela controvérsia do tema, mas sobretudo pela forma algo cirúrgica (como se fosse uma "autópsia intelectual", nas palavras do narrador) como tratou os sentimentos, angústias, sofrimentos, humilhações de um condenado à morte, condenado esse acerca do qual o leitor desconhece o nome ou a sua história (além de que cometeu um crime de sangue, de que se reconhece culpado, e que deixa uma filha de três anos, a mulher e a mãe - que, afinal, também acabam por ser condenadas: à orfandade, à viuvez, à desonra).
Após conhecer a sentença, o condenado é conduzido para o cárcere de Bicêtre (no qual aguarda seis semanas até ser apreciado o seu recurso). Aí decide escrever um relato das suas emoções, «(...) o único meio de sofrer menos com tais angústias é observá-las, e ao pintá-las distrair-me-ei delas.»; escreve para a posteridade e para fazer refletir os que à morte condenam (ainda que o seu idealismo vacile: «Quando a minha cabeça tiver sido cortada, que me interessa que cortem outras?»). A morte está sempre presente, por é praticamente inevitável, e apesar de todos os esforços de racionalização - nomeadamente que a guilhotina garante uma morte indolor, que seria pior uma condenação a trabalhos forçados perpétuos, etc. - acaba por não conseguir afastar alguma esperança. Os que o rodeiam neste último dia de vida (os guardas, o padre, etc.) não compreendem a sua angústia - para eles, afinal, a vida continua, e aquele homem condenado pouco lhes diz...
No prefácio à edição de 1832, Hugo é brilhante: argumenta abertamente contra a ignomínia da pena de morte, justificando as razões que o levaram a escrever O Último Dia dum Condenado e porque o fez de uma forma despessoalizada (para abranger todos os condenados). Faz algumas considerações de índole social perfeitamente atuais, nomeadamente quando associa as origens miseráveis e a falta de instrução (sem que isso fosse culpa sua) à queda no crime.
É, pois, um relato espantoso, emocionalmente intenso sem cair no melodramatismo, em muitos aspetos mais realista que romântico. Seguramente uma obra a que conto regressar mais vezes.