sexta-feira, 7 de outubro de 2016

"O Tambor de Lata", de Günter Grass

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Quando se parte para uma obra com expectativas, correm-se riscos, sendo a desilusão (já nem refiro a sensação de perda de tempo) o mais significativo. Ao partir para este O Tambor de Lata, do "nobelitado" Günter Grass, não pensei estar a fazer uma jogada arriscada; afinal, além de um certo estatuto subjacente ao prestigiado (mas nem assim tão linear) prémio literário, já havia recolhido alguns ecos positivos acerca das suas obras mais importantes. Até ao momento, apenas lera um curto ensaio intitulado Escrever depois de Auschwitz, que, de resto, achei bastante inócuo - mas sempre parti do pressuposto (continuo a partir, apesar de tudo) que tal texto não fazia justiça à escrita do autor.
O Tambor de Lata, publicado em 1959, é considerado um romance importante no âmbito da literatura alemã contemporânea, e isto, ao que parece, deve-se em grande parte ao facto de o autor ter (muito timidamente, a meu ver) tocado no tema do nazismo e da guerra. O narrador e protagonista, Oskar Matzerath, internado num asilo de alienados, revisita a sua história familiar e pessoal (e, por arrasto a da cidade de Danzig e a do povo alemão), desde finais do século XIX a meados do século XX. No centro do seu percurso há alguns aspetos que se assumem como centrais: o seu nanismo, o seu (conexo) comportamento infantilizado e a omnipresença dos tambores de lata ao longo da sua vida (presença essa de, segundo o narrador, tons quase metafísicos, pois Oskar pretende reconstituir o passado com a ajuda do tambor). De permeio há ainda a sua capacidade de partir vidros com a voz e a sua ambígua responsabilidade no fim de vários dos seus entes queridos. No fundo - muito no fundo -, é possível antever alguns aspetos da Alemanha dos anos 30 (os comícios nazis, o enquadramento da juventude, o destino trágico dos judeus).
A escrita de Grass, através do relato acriançado e/ou algo louco de Oskas, intenta ser irónica (ou mesmo cínica) e cómica. Porém, pessoalmente, não consegui simpatizar com o humor de Grass (acontece-me o mesmo, de certa forma, com o humor do português José Saramago). Ao longo do livro fiquei com a sensação de que o autor apontava para o "patético" (o "patético", isto é, a busca do caricato, do sensacional, do inaudito, pode ser literariamente brilhante - basta pensar em Gogol); porém, entendo que o autor alemão chegou apenas ao "pateta". Para mim, as mil e uma peripécias vividas pelo protagonista são mais "engraçadinhas" do que propriamente engraçadas. Outro aspeto que não me encantou (embora este aspeto em sim mesmo não seja um defeito) é a linearidade cronológica do enredo: certo, trata-se do relato de uma vida - mas a mera sucessão de episódios, sem qualquer profundidade subjacente, acabaram por matar-me o interesse.
Terminei as quase setecentas páginas do livro, mas tenho que confessar que penei um pouco nas últimas duzentas. Comecei gradualmente a desconfiar que a pobreza (filosófica, se quisermos) do livro iria estender-se até à última página; suspeitei que o autor não iria entrar, após quinhentas páginas de episódios mais ou menos rasteirinhos, em grandes elucubrações. E isso veio a confirmar-se, infelizmente. Talvez a culpa esteja neste leitor, mas a cinquenta páginas do fim, após um ou dois dias a ganhar coragem para retomar a leitura, só pensava no que ler a seguir.

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