segunda-feira, 11 de abril de 2016

"Primeiro os Idiotas", de Bernard Malamud

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A impressão muito positiva sobre a escrita de Bernard Malamud que resultara da leitura de O Barril Mágico foi agora plenamente confirmada com este Primeiro os Idiotas.
Publicada originalmente em 1963, esta nova coletânea de contos repisa os mesmos temas e tipos que a anterior: a comunidade judaica nova-iorquina (sobretudo os seus estratos mais humildes, ameaçados ora pela sua condição de "comunidade", ora pelo dinamismo da sociedade de consumo que coloca em causa os pequenos negócios de bairro), os refugiados da guerra, os americanos que se radicam em Itália para prosseguir estudos os buscar inspiração artística, entre outros.
A simplicidade e interesse dos seus enredos, bem assim como a sua escrita elegante, viva e bastante humanista, contribuem para que alguém como eu (isto é, alguém que não tem um especial interesse pela leitura de contos) se interesse por este autor e espere reencontrá-lo num futuro próximo.

quinta-feira, 7 de abril de 2016

"Letra Aberta", de Herberto Helder

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Já mais do que uma vez expressei a minha admiração pela obra de Herberto Helder, pelo que é sempre com curiosidade que abordo os seus livros. A sua obra édita encerra-se com Poemas Canhotos, livro que, apesar de ter sido publicado depois da sua morte, o autor deixara preparado para publicação; portanto, este Letra Aberta é apenas o início da exploração (e comércio, não vamos ignorar por um qualquer pudor essa faceta) do seu espólio inédito (pode ler-se na contracapa: «Esta não é a edição crítica que a obra inédita de Herberto Helder merece e que certamente virá a lume no futuro, agora que o seu espólio está a ser integralmente digitalizado. Trata-se apenas de uma escolha realizada pela viúva do poeta para assinalar o 1º aniversário da sua morte.»)...
Os trinta e poucos poemas que constituem este volume resultam de uma escolha da viúva do poeta, claramente feita sobre o corpus mais recente. Assim, não se estranha a similitude temática e estética com os últimos livros - em especial, com A Morte sem Mestre e Poemas Canhotos; julgo mesmo que terá sido esse o critério da reunião destes poemas (ainda que nenhum esclarecimento exista para além da nota citada).  A presente edição inclui o fac-símile dos manuscritos de alguns poemas e uns poucos poemas de interesse - fica em aberta a questão de saber se o autor os considerava fechados e dignos para publicação.

quarta-feira, 6 de abril de 2016

"O Luto de Elias Gro", de João Tordo

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Apesar de não ter ficado deslumbrado com a escrita de João Tordo após a leitura de O Bom Inverno, propus-me regressar ao autor. O regresso fez-se com O Luto de Elias Gro, obra que procura estar menos presa à intriga (que, aliás, não é muito elaborada) e, antes, deambular sobretudo pela interioridade do narrador.
Nesta obra, João Tordo lança-se na exploração da dor da perda e da separação, recorrendo a alguns lugares comuns do género - a fuga, o isolamento, a procura de alienação pelo álcool, a desistência, mas também a redenção. Não sou, de resto, contra os lugares comuns: há lugares comuns que podem ser (e muitas vezes são) revisitados com originalidade ou até com genialidade; julgo, porém, que o autor não foi tão longe.
Reconheço que a escrita de Tordo tem algum interesse, mas não posso dizer que este seu livro - apesar de não me ter desagrado - me tenha deslumbrado; julgo que é um livro mediano, que se lê bem, mas com alguns pontos que não me agradaram tanto (o modo como são exploradas as histórias do escritor e do antigo faroleiro, por exemplo, é relativamente pobre e muito pouco estimulante - julgo que o autor prendeu conseguir alguma densidade psicológica através de tais histórias, mas para mim terá falhado nesse aspeto).