Visite-nos em https://www.facebook.com/leiturasmil.blogspot.PT |
Albert Camus ocupa um lugar muito próprio no meu percurso como leitor. A minha primeira leitura de Camus - O Estrangeiro - aconteceu sem nada saber sobre o escritor e seu papel nas Letras europeias. Tinha então quinze anos e só li aquela obra por obrigação escolar: uma percentagem da avaliação da disciplina de Filosofia de 10º ano recaía na elaboração de uma ficha de leitura sobre uma das vinte ou trinta obras propostas pelo professor. A escolha de O Estrangeiro resultou de dois factos: existir na biblioteca paterna (como aliás outras das obras arroladas pelo professor) e não ser muito grande (não tendo na altura quaisquer hábitos regulares e estruturados de leitura, a dimensão do livro era fundamental). O meu pai, depois de me indicar quais os que possuía, recomendou-me o livro de Camus, como sendo uma obra interessante e acessível (tanto na linguagem simples, sem grandes enfeites, como, digamos, no seu conteúdo "filosófico").
Sem que nada o fizesse prever (ler por obrigação pode ser extremamente aborrecido), O Estrangeiro foi uma relevação para mim - entusiasmado, li-o num fôlego e (porque durante a leitura tive que encontrar informação para completar a ficha fornecida pelo professor) reli-o logo a seguir (dessa vez sem "interrupções", por puro prazer)! Nunca antes tinha lido um livro que me convocasse tão diretamente à reflexão - essa foi talvez a maior novidade -, e apesar de talvez na altura não ter entendido a narrativa em todas as suas dimensões, no espaço de pouco tempo procurei ler todos os livros de Camus existentes na biblioteca lá de casa (os principais do autor). Durante anos, acrescente-se, considerei O Estrangeiro como um dos "livros da minha vida" (e talvez, porque me marcou muito nessa fase da vida, o possa considerar ainda, mesmo que já não encerre o mesmo valor que noutros tempos).
(Nestas notas (quase) para mim próprio tenho a tendência para fazer um pouco a arqueologia do meu percurso como leitor. Mas como não faze-lo, se considero que isto de ler não corresponde somente a uma soma de autores e livros, mas sobretudo a um caminho?)
O Exílio e o Reino é um livro que comprei há longo tempo (volume poeirento, levemente queimado pelo sol, esquecido num estante pouco visível de uma livraria), e li já depois de ter passado por A Peste e A Queda. Na altura agradou-me ler os seis contos que fazem parte deste volume e que evocam, de diferentes modos, a Argélia natal do autor. Lembro-me de ter apreciado razoavelmente o livro, em especial o conto "Jonas", que relata a história de um pintor que, conhecendo a consagração artística e social, de certa forma se perde da sua arte (que antes lhe nascia tão naturalmente) bem como da sua família, caindo na alienação.
Esta releitura confirmou, de certo modo, a minha primeira impressão destes contos: apesar de se notarem os traços da escrita (o modo simples, direto, sem grandes efeitos estilísticos, mas cuidada) e do campo de reflexões de Camus (o destaque dado ao problema da angústia existencial de cada individuo), estas narrativas não entusiasmam - falta-lhe, talvez, alguma intensidade. Destaco, ainda assim, "O Hóspede", estória que achei bem construída e muito bem fechada.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Obrigado pelo seu contributo. O seu comentário será publicado em breve.