quinta-feira, 14 de agosto de 2014

"Todo-o-Mundo", de Philip Roth

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Todo-o-Mundo é a meu ver um livro excelente, mesmo podendo não ser um dos melhores do americano Philip Roth. Trata-se de um livro curto, com uma história simples, mas ainda assim exemplar no que diz respeito à arte de narrar. A escrita de Roth é irrepreensível, parecendo simples - mas, como é sabido, a simplicidade frequentemente implica mestria.
Neste livro, Roth prenda-nos com uma reflexão sobre a extinção - ou, passe a redundância, sobre a morte -, destino reservado a todo o homem (Everyman é o título desta obra na língua original - julgo que a tradução do título não consegue abranger a acuidade do termo inglês). Significativamente a história inicia-se com o funeral do protagonista que, por coincidência ou não, nasceu no mesmo ano que o autor, 1933 (o que talvez permita extrapolar as preocupações do autor, com setenta e poucos anos à data da escrita do romance).
Ao longo das páginas de Todo-o-Mundo, o leitor segue o percurso de vida do defunto, pontuada (como todas) por doenças, hospitalizações, intervenções cirúrgicas, mortes de pessoas próximas. Alicerçadas nestes episódios, as vicissitudes da biografia do protagonista: a infância, o negócio paterno, a relação com o pai e com o irmão, os vários casamentos e divórcios, a carreira profissional e, finalmente, a reforma... A vida é-nos revelada na sua crueza (e finitude), feita de acasos, perigos e opções; e, à custa de opções eventualmente mal calculadas, o protagonista tem que se confrontar com os seus fracassos (mesmo que isso signifique auto-recriminação), com a sua velhice (com a deterioração física, com a solidão...) e com essa estranha mas fatal tendência de aproximação entre a biografia pessoal e a biografia médica, ao ponto de as doenças, os medicamentos, os tratamentos e os óbitos se tornarem temas frequentes de conversa. Certeiro? Sim, seguramente - mas, sobretudo, humano.
 

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