sábado, 5 de julho de 2014

"Hollywood", de Charles Bukowski

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Quem é Henry Chinaski, o personagem principal e narrador deste Hollywood (e, de resto, de outros livros de Charles Bukowski)? Bem, aparentemente esse personagem corresponde nos traços gerais (eventualmente polido aqui, aparado acolá - afinal, estamos perante uma obra literária, ou não?) ao seu criador; por sua vez, a história deste livro alude diretamente à experiência de Charles Bukowski na indústria do cinema, podendo talvez considerar-se Hollywood um relato autobiográfico ficcionado...
Em meados da década de 1980, Bukowski - um poeta, romancista e contista consagrado, muito admirado por muitos, mas também bastante repudiado pela sua postura provocatória -  foi convidado a escrever um guião cinematográfico. O resultado foi "Barfly", filme realizado por Barbet Schroeder, e interpretado por Mickey Rourke e Faye Dunaway, e que retrata uma fase da vida do escritor. Em Hollywood, é descrita de uma forma desencantada, irónica, crítica (mas não haverá também uma tentativas de distanciação ou mesmo de autojustificação?) a passagem de Bukowski pelo mundo do cinema, com as suas estrelas, egos desmesurados, excentricidades vazias, vícios de várias tonalidades de sordidez, ódios pessoais, invejas profissionais, mesquinhezes, artimanhas contratuais e festas de aparato...
Os personagens do livro aludem a pessoas do universo cinematográfico: assim, Jack Bledsoe é Mickey Rourke, Francine Bowers é Faye Dunaway, e Barbet Schroeder é Jon Pinchot; no personagem Jon-Luc Modard não é difícil reconhecer o carismático realizador francês Jean-Luc Godard, e o mesmo se passa com Wenner Zergog, que se refere ao realizador Werner Herzog... Isto apesar da indicação inicial: «Esta é uma obra de ficção e qualquer semelhança entre as personagens e pessoas, vivas ou mortas, é pura coincidência, etc.»
O álcool, tão presente na vida e obra de Charles Bukowski, é omnipresente em todos os capítulos - Hollywood é, quase se poderia dizer, um romance "etilizado" - porém, sem grandes censuras ou apologias à alcoolemia: o álcool é mais um personagem.
O estilo de Bukowski é assente em frases curtas, diretas, e as ideias aparecem em bruto, sem grandes artifícios literários. Por isso mesmo, pelo seu humor e pelo facto de se reportar a uma realidade que (para bem e para o mal) fascina tantos milhões de pessoas, a leitura acaba por se tornar viciante... Não sendo considerado um dos melhores romances do autor, este primeiro impacto alimentou a vontade de ler-lhe mais obras...

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