Reli nestes últimos dias o livro que me apresentou um dos meus escritores favoritos - o austríaco Thomas Bernhard. Se, como habitualmente me acontece nos seus livros, estranhei o estilo de escrita nas primeiras quatro ou cinco páginas, rapidamente fiquei preso. Trata-se de uma escrita ímpar, obsessiva, que parece respirar da mesma forma que uma sinfonia (os temas principais são frequentemente repetidos, ainda que apresentando constantes variações, das mais ligeiras às mais contraditórias).
O universo deste autor também me agrada bastante. A música - dita erudita -, bem assim como a arte e a filosofia, está sempre presente; neste caso, Glenn Gould (pianista falecido um ano antes da publicação deste livro e, de certo modo, mote para a construção desta obra) é transformado em personagem transversalmente presente (o seu génio esmaga Wertheimer - talvez a semelhança com o nome do personagem suicida de Goethe, Werther, não seja acidental).
Um livro, portanto, original e culto (com bastantes referências culturais); simultaneamente, uma narrativa muitas vezes ácida, ou mesmo cáustica, característica deste autor que perpassa por todos os livros que dele li.