sábado, 30 de março de 2013

"Nenhum Caminho será Longo. Para uma teologia da amizade", de José Tolentino Mendonça

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Se na minha biblioteca são raros os livros relacionados com religião, tal se deve ao facto de não ser assunto do meu particular interesse. Porém, o livro Nenhum Caminho será Longo. Para uma teologia da amizade, de José Tolentino Mendonça, não é exatamente um ensaio religioso - ou, melhor, não é apenas um ensaio sobre religião.
José Tolentino Mendonça, que além de religioso é um poeta (e intelectual) que muito aprecio, neste seu livro - escrito com a simplicidade e delicadeza que o caracterizam - trata da amizade, mostrando que por ela poderá passar a relação de cada pessoa com Deus. Não se julgue, no entanto, que esta obra se dirige apenas a cristãos: há na escrita deste autor um humanismo que se alicerça não só na tradição cristã, mas igualmente no universo literário e na cultural universal (considere-se que nas primeiras páginas somos recebidos com um provérbio japonês, de onde aliás é retirado o título do livro: «Ao lado do teu amigo, nenhum caminho será longo»); por isto, e pelo interesse do próprio tema, julgo que o autor consegue falar a quem não se interesse especificamente por religião (ou apenas, como será o meu caso, se interesse apenas numa perspetiva cultural), ou a quem não seja cristão.
Em síntese, uma obra de leitura muito agradável, que convida ao silêncio, à reflexão, e, talvez, em última análise, a uma vida mais livre do que é acessório.

quarta-feira, 20 de março de 2013

"A Inquisição de Coimbra no Século XVI. A instituição, os homens e a sociedade", de Elvira Mea

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Ainda que nem sempre os textos de índole académica sejam de leitura agradável, a obra de Elvira Mea sobre a Inquisição de Coimbra no século XVI é de leitura fácil e relativamente cativante. Contrariamente a um outro livro que recentemente li sobre a Inquisição em Portugal, este trabalho pareceu-me bastante sólido em termos metodológicos e muito bem estruturado, permitindo ao leitor uma equilibrada visão de conjunto do funcionamento daquela instituição. Elvira Mea não entra em sensacionalismos, ideias pré-feitas ou juízos de valor (apressados), nem constrói o seu texto somando casos exemplares ou simplesmente curiosos; antes mantém ao longo da obra um tom rigoroso e sereno - muito mais do meu agrado. Gostei, portanto, de ler este livro, terminando, por agora, a exploração desta temática.

sábado, 9 de março de 2013

"Goodbye, Columbus. E cinco contos", de Philip Roth

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Acabo de ler Goodbye, Columbus, livro constituído por uma novela e cinco contos. Philip Roth revela neste livro (o primeiro que publicou, em 1959) o estilo fluído e cativante que o caracteriza, bem assim como a arte de contar boas histórias. Não será um dos meus livros favoritos de Roth (não posso compará-lo a Pastoral Americana, A Mancha Humana, Casei com um Comunista ou Conspiração contra a América, obras com enredos um pouco mais densos e ricos em detalhes e referências à cultura americana), mas, ainda assim, é um livro bastante interessante.
A ironia e até o humor aparecem, em alguns momentos, de uma forma muito conseguida - como no conto "O Defensor da Fé", em que um soldado judeu procura, durante a instrução militar no contexto da Segunda Guerra Mundial, jogar com a sua condição religiosa para conseguir obter determinados privilégios (como seja ser dispensado da faxina para assistir aos serviços religiosos)... Um livro, por isso, muito recomendado.

quarta-feira, 6 de março de 2013

"D. Afonso II. Um rei sem tempo", de Hermínia Vasconcelos Vilar

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Com D. Afonso II, de Hermínia Vasconcelos Vilar, completei a leitura de dez das trinta e quatro biografias da coleção "Reis de Portugal". Farei agora uma breve pausa destas biografias para me dedicar a outros livros; quando as retomar, seguirei os percursos de D. Sancho II e D. Afonso III; o passo seguinte consistirá talvez num salto cronológico (mergulharei nos reinados de D. João IV ou de D. Pedro V).

terça-feira, 5 de março de 2013

"Inquisição de Évora. Dos primórdios a 1668", de António Borges Coelho

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A Inquisição de Évora é, neste livro em dois volumes de António Borges Coelho, vista sobre a perspetiva das suas vítimas. O autor utiliza uma linguagem simples, direta e, por vezes, algo literária. Julgo que estes dois aspetos conferem a esta obra um certo perfil popular, o que, na minha perspetiva, nem sempre convém a um texto de tipo académico (trata-se da tese de doutoramento que o autor apresentou à Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa).
Para a construção deste estudo, que terá implicado dez anos de pesquisa, o autor serviu-se de um volumoso manancial documental (sobretudo os processos inquisitoriais), esforço que aliás transparece tanto ao longo do texto, como nas cerca de 180 páginas do apêndice documental. Faz-se de modo constante "falar" a documentação, ainda que, a meu ver, nem sempre fazendo (no texto escrito, entenda-se), de forma profunda, a crítica das fontes. Por vezes, o autor assume literalmente o conteúdo dos documentos e/ou obras citadas, o que é visível na sua tendência de fazer longas citações (no capítulo "Repressão ideológica e sexual", por exemplo, esse abuso da transcrição constante de casos exemplares torna-se algo monótono); por outro lado, nem sempre se faz a necessária desconstrução e síntese do que é analisado.
Um aspeto que ressalta à vista, para quem acompanha o que se vai publicando no campo da História, é pobreza ao nível da quantificação: as longas tabelas ou arrolamentos (o autor chama-lhe "mapas") que são, de quando em quando, inseridos no texto, nem sempre permitem uma leitura inteligente - os dados poderiam, por exemplo, ter sido trabalhados de forma a se obterem uns quantos gráficos mais significativos.
Por último, parece-me que o autor nem sempre se livra de fazer juízos de valor, até mesmo juízos morais - o que só serve para condicionar a interpretação de quem lê. A comparação entre o aprisionamento inquisitorial do período moderno português e a repressão política no período pré-1974 parece-me escusada (ainda que tendo em conta o percurso do autor, que, pela sua ação política, esteve preso).
De qualquer forma, ainda que outras obras existam sobre o tema (refiro-me à atuação da Inquisição em Portugal), trata-se de um trabalho de interesse.