terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

"KL - A História dos Campos de Concentração Nazis", de Nikolaus Wachsmann


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Em tempos de escassez de tempo (passe a repetição), demorei cerca de um mês a ler este KL - A História dos Campos de Concentração Nazis - sendo certo que fui fazendo outras leituras, à data ainda não concluídas. (À custa disso, e de forma inédita nos últimos anos, acabei por não terminar qualquer livro no mês de Janeiro - não que a leitura seja uma competição com o objetivo de ler em quantidade; quem acompanha este blogue, certamente perceberá que esse não é o meu fito). No final do ano passado, constatei que a obra da autoria do académico Nikolaus Wachsmann foi muito bem recebida, como esforço de síntese que conjuga a diacronia com a sincronia narrativa; daí a minha decisão de ler este KL.
Nesta história do sistema concentracionário nazi, Wachsmann proporciona aos leitores um olhar sobre a sua evolução desde a chegada dos nazis ao poder, em 1933, até à sua derrota na guerra, em 1945 (e mesmo, no epílogo e de forma muito abreviada por fugir ao tema, um pouco para além desse acontecimento). Uma tal empreitada, muito bem estruturada e escrita (e traduzida com muita correção, pelo que pude avaliar), permite ao leitor comum ultrapassar a imagem algo estática que existe dos campos. Este livro é bastante explícito nas diferentes fases vividas pelo sistema - a nível administrativo e burocrático, das práticas (desde o germe do terror concentracionário, até à violência extrema, passando por muitos tons intermédios), das vítimas mas também dos perpetradores, etc. Momentos houve (sobretudo na década de 1930) em que houve libertações de prisioneiros e em que o exercício do terror e da violência não era tão sanguinário; Wachsmann consegue de forma exímia mostrar como os campos se transformam consoante o regime nazi se radicaliza (com a entrada na guerra expansionista - que resulta em massas de prisioneiros -, com as primeiras derrotas militares - que levam a uma atitude assassina de retaliação -, com a decisão genocida para a então denominada "questão judaica" - a "Solução Final" segue e desenvolve, aliás, os procedimentos que vinham a ser implementados para os casos dos deficientes mentais, doentes terminais, etc.).
Em vários momentos, este livro é duro, sobretudo em certas descrições e relatos (mesmo que o autor até seja relativamente comedido em tais passagens); consegue caracterizar muito bem o cinismo, a  completa falta de humanismo, o fanatismo radical dos criminosos, mas também os permanentes (e frequentemente armadilhados) dilemas e as grandes dificuldades (privações, doença, violência, seleções) que eram enfrentados diariamente pelas vítimas.
Ainda que seja um livro muito equilibrado, pessoalmente considerei particularmente aliciantes os últimos capítulos, pelas diferentes perspetivas consideradas: a questão moral (da justiça) torna-se então o motor subjacente à abordagem da derrocada do regime nazi e dos meses e anos que se lhe seguiram. Mas essa é outra história, que este livro, se nela toca, não desenvolve.
Futuramente, se oportunidade tiver (isto é, acesso ao livro), gostaria de ler o também recente Terra Negra. O Holocausto como história e aviso, de Timothy Snyder (autor de Terra Sangrenta. A Europa entre Hitler e Estaline).

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